O desembarque peemedebista da base do governo pode não ter sido decisivo como se imaginava para o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Para além dos rachas descobertos na própria sigla, com parlamentares negociando individualmente com o governo cargos em troca de apoio à sua permanência, as siglas conhecidas pelo maior fisiologismo podem selar a derrota da estratégia do vice Michel Temer e da oposição. Essa é a avaliação da consultoria Pulso Público.
Nos cálculos dos especialistas, partindo-se do pressuposto que PT, PCdoB, PSL, Pros e PSOL votem integralmente a favor de Dilma -- o que totalizaria 83 votos --, o governo precisaria do apoio de mais 89 parlamentares da sua base formal de apoio. "Portanto, Dilma permanece no cargo se obtiver apoio de 61% dos deputados de PP, PR, PSD e PRB [89 dos 144 possíveis], ainda que todos os deputados peemedebistas e filiados a partidos nanicos votem pelo impeachment", escreveram em relatório a clientes.
"Isso significa que o governo deve barrar o processo de impeachment no Plenário da Câmara, mesmo sem nenhum voto favorável entre os deputados do PMDB e de partidos nanicos e mesmo que a oposição conquiste 39% dos votos dos deputados que hoje integram aquilo que se poderia chamar de 'base volátil' ou 'base em disputa'", dizia o texto da Pulso Público. A consultoria lembra que, se for considerada a disciplina média dos partidos do centrão decisivo no processo (74%) e a totalidade da "base estável", sobrariam 18 votos além dos que são necessários para que o impeachment fosse barrado.
Ou seja, mesmo sem o apoio dos peemedebistas e sem o apoio dos conhecidos infiéis dentro do restante da base, é possível visualizar um cenário de permanência de Dilma no poder. Também joga a favor da presidente o fato de abstenções à sessão decisiva terem significado prático idêntico ao voto contrário ao impeachment. Além disso, espera-se apoio de uma parcela da bancada peemedebista, uma vez que o líder da sigla, Leonardo Picciani (RJ), segue adepto ao governismo.
Se, por um lado, aliados de Temer esperavam que a formalização da saída do PMDB da base do governo por aclamação seria o estopim para um efeito-dominó na base e a destruição do atual governo, o que se desenha na prática é um cenário mais complexo. Há quem veja o evento da última terça-feira como um equívoco político. Mesmo que outros representantes da base tenham acenado para um movimento em conjunto com os peemedebistas, a decisão precoce de Temer e sem a devida costura de unidade em seu partido deu tempo ao governo para contra-atacar. O vice teria "enchido a caneta" de Dilma, que sem o apoio da maior bancada da Câmara, tem novos ministérios e cargos a oferecer para quem da base prometer fidelidade.
"A distribuição das pastas ministeriais pelo governo Dilma era demasiado concentrada no PTe no PMDB, deixando o espaço dos outros partidos aquém de sua importância relativa para a coalizão no poder Legislativo. A redistribuição do espaço aberto pelo PMDB no governo pode ser uma janela de oportunidade para corrigir o desequilíbrio que fundamentou a montagem da coalizão por Dilma Rousseff desde seu primeiro mandato", observam os analistas da Pulso Político.
No mesmo sentido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensifica sua participação como ministro informal enquanto não ocorre a decisão do Supremo Tribunal Federal. Na semana passada, costurou acordos importantes, focou o discurso contra o suposto "golpe" na figura de Temer e iniciou uma ofensiva no Nordeste, onde ainda tem capital político relevante. A ideia agora é negociar com parlamentares menos expostos à pressão das ruas pelo voto favorável ao impeachment.
Ainda é cedo prever quem sairá vencedor dessa disputa, sobretudo com a indefinição de posição dos partidos decisivos no processo. Espera-se que essas siglas procrastinem ao máximo indícios concretos do resultado do processo antes de tomarem posição, e decidam em cadeia -- afinal nenhum deles tem condição de definir os rumos do impeachment individualmente.
No entanto, a consultoria não vislumbra um cenário favorável ao final desse processo. "Neste momento, a perspectiva maior é de manutenção do governo Dilma Rousseff, ainda que em péssimas condições para o controle do processo de formulação de políticas públicas", escreveram os analistas. "Entendemos que o cenário para o médio prazo é extremamente difícil. A reconquista da Governança do processo legislativo tornou-se ainda mais complexa com a saída do PMDB da base, fazendo com que o Governo passasse a ser minoritário quando levamos em conta sua Base de Apoio Operacional", concluíram.
Fonte: InfoMoney
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