quarta-feira, 6 de julho de 2016

Desarticulada, base de Rui Costa cobra coordenação política centralizada

No próximo dia 20 de julho será aberto o período de convenções partidárias para confirmação das candidaturas a prefeito e vereadores em outubro. Tratada como uma “eleição laboratorial” esta será a primeira após a atabalhoada minirreforma eleitoral promovida pelo Congresso Nacional.
O ano também é atípico por causa das discussões em torno do impedimento da presidente Dilma Rousseff (PT) e da operação Lava Jato, que empurra para “as cordas do ringue” caciques e partidos políticos a cada dia. Ninguém, afirmam as fontes ouvidas pela reportagem do Bocão News,conseguiu se organizar plenamente diante deste cenário.
Trazendo este contexto para a realidade baiana é fato que as principais lideranças políticas aglutinas na base do governador Rui Costa estão “batendo cabeça” e cobrando uma postura mais centralizadora na coordenação do projeto do próprio gestor petista.
Acostumados com os anos anteriores quando uma mesa de negociação permanente discutiu, não necessariamente resolveu, mas debateu a conjuntura e candidaturas nas principais áreas, os caciques estão inquietos com a condução.
À imprensa Rui Costa (PT) deixou claro que não vai entrar neste “jogo”. Foram levantados três pontos por prepostos do governador sobre como ele está atuando neste período pré-eleitoral.
“O governador conversa com todos os partidos da base ou não; o governador dá autonomia para que os partidos e atores municipais definam seus e; o governador não vai ficar refém de ninguém”, enumerou uma das pessoas ouvidas pela redação do Bocão News que completou: “as principais lideranças estão conversando pari passu com o governador”. Rui Costa não vai pegar na mão para apoiar em troca de dividendos.


Caminhos

As interpretações para esta estratégia são muitas. Uma delas é que de que Rui não deve colocar na “sua própria conta” uma derrota clara nas eleições para prefeito de Salvador, como apurado pela repórter Cíntia Kelly durante o desfile em homenagem ao 2 de julho.
Mas mais do que a eleição de Salvador, as queixas são relacionadas ao modelo de organização para os pleitos no interior. Obviamente, que não se pode esquecer a importância de ter fileiras engrossadas nos principais municípios para a disputa de 2018.
Nas últimas eleições municipais, em 2012, uma mesa permanente de conversas chamada de Conselho Político funcionou. Havia a intenção de manter este colegiado, mas o que aconteceu foi a sua desarticulação em nome de uma estratégia bi-partidarizada. Ou seja, aquilo que era discutido em bloco agora é tratado no um para um.
Caciques
O presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo, presidente estadual do PSL, se queixou da falta de articulação política neste sentido. O deputado federal Cacá Leão que atualmente exerce uma função de negociação dentro do PP também. O presidente do PCdoB, deputado federal Daniel Almeida, foi outro ator política a dizer que não há conversa articulada.
O senador Otto Alencar, presidente do PSD, foi além. Segundo Otto, o conselho já não funcionava em 2012 e cobrou a reciprocidade do PT que naquela ocasião disputou a eleição na chapa de candidatos do PMDB, adversário político do projeto estadual, contra postulantes do PSD.

“O conselho político não funcionou. Espero que este ano funcione pelo menos a coerência de o PT, por exemplo, não apoiar partidos de oposição. Em Milagres, São Gabriel e Presidente Dutra, em 2012, o PT apoiou candidatos do PMDB. O que funciona e precisa ter são critérios. Policio o PSD para não dar lugar para outro tipo de articulação. Não fizemos aliança com nenhum partido adversário. Vamos buscar aliança dentro da base. Precisa de regra”, avaliou Otto.
Cacá Leão afirma que antes o cenário era discutido. “O governador era o piloto da estratégia que foi vitoriosa. Chegou-se a acordos em diversos municípios. Não foi colocado na mesa uma estratégia (neste ano). É bom lembrar que uma das grandes responsáveis pela vitória de 2014 foi a base coesa que ele tinha. Os prefeitos eleitos em 2012 foram para a disputa em 2014 e fizeram a virada”.
Já Nilo argumenta que em determinados municípios não tem como compor candidaturas, no entanto, as discussões ordinárias evitam maiores traumas para gestão estadual. “Não existe conselho. Só Josias fica responsável por isso e ele não tem tempo. Rui como gestor é nota dez, mas como político é preciso melhorar. Falta coordenação política. Cada partido da base está puxando para si”, afirmou.
O novo presidente do PSL no estado contemporiza ao dizer que a culpa não é do secretário de Relações Institucionais Josias Gomes que vive com a agenda cheia. “Josias se esforça. O governo não está coordenado para as eleições. Tem lugares que são três, quatro candidatos. A sorte é que a oposição também está se dividindo, mas o governo tem mais força para unir. Se criar os critérios tem como definir. O governador, neste espaço, é mais forte”.
O deputado federal Daniel Almeida (PCdoB) também lamentou a ausência do colegiado. “O governador assumiu que faria funcionar este conselho. Faz muita falta porque era um espaço de combinação da agenda política. Nas campanhas passadas, inclusive quando Rui estava nas Relações Institucionais, havia o levantamento das principais cidades e se discutia a conjuntura de modo a favorecer o entendimento”.
“Panos quentes”

O secretário Josias Gomes (PT) não nega a falta de articulação política centralizada. Afirma que as críticas neste sentido boas para melhorar e demonstram o interesse em manter a união da parceria. Contudo, declara que se engana quem aposta na ausência de planejamento. De acordo com ele, mais de 50% dos municípios já tiveram as suas conjunturas discutidas com os partidos interessados.
Sobre a reciprocidade e critérios do próprio PT, Josias ressalta que o partido só terá candidato nas cidades com possibilidade real de vitória. “Avançamos muito. Os gargalos estão onde não se consegue concluir o processo. Onde não conseguimos o entendimento. Oferecemos sugestões, mas cabe aos partidos resolver”.
Interessante neste processo é que nenhum dos consultados, incluindo o próprio Josias Gomes, não sabe exatamente quantos prefeitos são aliados ao governo do estado. Ou não tabularam ou preferem não divulgar por qualquer outra razão.  Outra informação complementar é a de que Rui Costa não está disposto a negociar espaços, vantagens ou financiamento com candidatos para manter a base unida.

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