Em matéria divulgada aqui na semana passada, a estudante Gabriele Santos da Cruz, aluna do 9º ano do Centro de Educação Municipal Oliveira Brito – CEMOB, escola de Araci, foi semifinalista na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, categoria Crônica. Seu texto foi produzido em sala de aula, sob a orientação da Professora Celma Cabral da Silva. Apreciem o texto da aluna que lhe conferiu medalha de bronze.
Primeiras impressões
Eram oito horas da noite quando voltava de um passeio com os amigos. Nós sempre nos encontrávamos no chamado “parquinho” para tomar sorvete e colocar o papo em dia. Eu desfilava pelo calçadão, perto do famoso Mercado da Farinha, de lá havia uma visão privilegiada da Praça da Conceição, super iluminada. Estava tudo lindo! O calçadão era como se fosse uma passarela e eu uma modelo internacional. Nem tanto! Mas… sonhar um pouquinho faz bem, além de ser um excelente combustível para não desistirmos jamais deles, dos nossos sonhos.
Depois de um “joga cabelo pra lá, um ajeita bolsa pra cá”, por um súbito momento ouço uma voz melancólica.
__ Mocinha!
Olho para o lado e avisto um senhor sentado no chão com um potinho de moedas do lado. Será que não tem hora para pedir esmolas? Estranhei aquele senhor ali àquela hora da noite. Logo, revirei minha bolsa e catei algumas moedas.
__ Aqui está, senhor. – entreguei as moedas nas mãos do mendigo e notei que as mesmas eram enrugadas e ásperas, mãos de quem havia dado muito duro na vida. Num ímpeto, puxei minha mão de volta. Foi aí que percebi que o pobre homem a estava segurando. Mas que diabos esse homem quer comigo? – pensei, já sentindo uma pontinha de medo.
__ Você me lembra alguém. – o mendigo me olhava como se me conhecesse. Era só o que me faltava!!!
__ É mesmo? Quem? – fingi-me de interessada no assunto.
__ Minha filha. Sabe, ela me abandonou há alguns anos. Não só ela, como toda a minha família. Eu não tenho ninguém. Minha vida é essa: pedir uns trocados pelas ruas.
Não sabia o porquê, mas já estava realmente começando a me interessar por aquele assunto. Não sei se era pena ou simplesmente curiosidade em conhecer a história daquela figura tão enigmática e, assim, poder ajudá-lo de alguma forma. Então, continuei.
__ Nossa! Que triste! Mas por que o senhor não mora em algum asilo ou algo parecido? Numa casa de repouso, sei lá. Lá, o senhor será bem cuidado.
__ Eu tenho muita vontade de morar em um lugar assim, mas me falta dinheiro.
Eu nem entendo mesmo de asilo. A única coisa que sei é que é um abrigo, um lugar para cuidar dos idosos. Por isso, resolvi não opinar.
__ E como o senhor se mantém?
__ Eu peço dinheiro nas ruas para sobreviver, vivo da caridade alheia. O problema é que as pessoas são muito egoístas, quase nenhuma para pra me dar um trocado.
Aquilo me tocou profundamente. Com certeza, eu estava entre aquelas pessoas egoístas das quais ele falara. Afinal, o que são algumas moedas diante de todas as necessidades daquele ser humano, vitima das desigualdades sociais e do abandono de sua família? Abri minha bolsa e olhei bem pra uma cédula de peixe que tinha ali. Seu destino seria a Luxo, uma loja de roupas bem chique que faz sucesso com o povo araciense. Como ia dizendo, o destino dessa linda nota de cem reais seria um maravilhoso vestido que eu já namorava na vitrine há algum tempo. O mesmo poderia sair de lá a qualquer momento e eu o perderia de vez. Olhei para o pobre senhor. Ele faria melhor uso desse dinheiro do que eu. Finalmente, enchi-me de coragem e tomei a mais difícil decisão: entreguei-a ao senhor. Senti um grande alívio por estar fazendo o bem mas, repentinamente, surge uma mulher com a respiração ofegante, parecia muito cansada.
__ Papai! Você está de novo pedindo dinheiro?! Será que sua aposentadoria não basta? Terei que te levar novamente ao psiquiatra.
__ Aposentadoria? Psiquiatra? – estava boquiaberta.
__ Sim, ele é aposentado, mas de vez em quando tem uns transtornos e acha que é mendigo e que sua família o abandonou.
__ Mas eu acabei de dar-lhe cem reais! Desculpe-me, mas se for assim, quero meu dinheiro de volta.
__ Olha aqui, mocinha, não tem o que fazer, não? Não tem vergonha de querer tirar proveito da situação e roubar meu pai? Oras! Ninguém daria cem reais a um mendigo! Ah… vai trabalhar!
Ela pegou o pai pelo braço e este levantou-se resmungando. Saíram a passos largos e sumiram num beco escuro. Lá se foi o pai e a filha, e com eles meu tão sonhado vestido!
Depois de um “joga cabelo pra lá, um ajeita bolsa pra cá”, por um súbito momento ouço uma voz melancólica.
__ Mocinha!
Olho para o lado e avisto um senhor sentado no chão com um potinho de moedas do lado. Será que não tem hora para pedir esmolas? Estranhei aquele senhor ali àquela hora da noite. Logo, revirei minha bolsa e catei algumas moedas.
__ Aqui está, senhor. – entreguei as moedas nas mãos do mendigo e notei que as mesmas eram enrugadas e ásperas, mãos de quem havia dado muito duro na vida. Num ímpeto, puxei minha mão de volta. Foi aí que percebi que o pobre homem a estava segurando. Mas que diabos esse homem quer comigo? – pensei, já sentindo uma pontinha de medo.
__ Você me lembra alguém. – o mendigo me olhava como se me conhecesse. Era só o que me faltava!!!
__ É mesmo? Quem? – fingi-me de interessada no assunto.
__ Minha filha. Sabe, ela me abandonou há alguns anos. Não só ela, como toda a minha família. Eu não tenho ninguém. Minha vida é essa: pedir uns trocados pelas ruas.
Não sabia o porquê, mas já estava realmente começando a me interessar por aquele assunto. Não sei se era pena ou simplesmente curiosidade em conhecer a história daquela figura tão enigmática e, assim, poder ajudá-lo de alguma forma. Então, continuei.
__ Nossa! Que triste! Mas por que o senhor não mora em algum asilo ou algo parecido? Numa casa de repouso, sei lá. Lá, o senhor será bem cuidado.
__ Eu tenho muita vontade de morar em um lugar assim, mas me falta dinheiro.
Eu nem entendo mesmo de asilo. A única coisa que sei é que é um abrigo, um lugar para cuidar dos idosos. Por isso, resolvi não opinar.
__ E como o senhor se mantém?
__ Eu peço dinheiro nas ruas para sobreviver, vivo da caridade alheia. O problema é que as pessoas são muito egoístas, quase nenhuma para pra me dar um trocado.
Aquilo me tocou profundamente. Com certeza, eu estava entre aquelas pessoas egoístas das quais ele falara. Afinal, o que são algumas moedas diante de todas as necessidades daquele ser humano, vitima das desigualdades sociais e do abandono de sua família? Abri minha bolsa e olhei bem pra uma cédula de peixe que tinha ali. Seu destino seria a Luxo, uma loja de roupas bem chique que faz sucesso com o povo araciense. Como ia dizendo, o destino dessa linda nota de cem reais seria um maravilhoso vestido que eu já namorava na vitrine há algum tempo. O mesmo poderia sair de lá a qualquer momento e eu o perderia de vez. Olhei para o pobre senhor. Ele faria melhor uso desse dinheiro do que eu. Finalmente, enchi-me de coragem e tomei a mais difícil decisão: entreguei-a ao senhor. Senti um grande alívio por estar fazendo o bem mas, repentinamente, surge uma mulher com a respiração ofegante, parecia muito cansada.
__ Papai! Você está de novo pedindo dinheiro?! Será que sua aposentadoria não basta? Terei que te levar novamente ao psiquiatra.
__ Aposentadoria? Psiquiatra? – estava boquiaberta.
__ Sim, ele é aposentado, mas de vez em quando tem uns transtornos e acha que é mendigo e que sua família o abandonou.
__ Mas eu acabei de dar-lhe cem reais! Desculpe-me, mas se for assim, quero meu dinheiro de volta.
__ Olha aqui, mocinha, não tem o que fazer, não? Não tem vergonha de querer tirar proveito da situação e roubar meu pai? Oras! Ninguém daria cem reais a um mendigo! Ah… vai trabalhar!
Ela pegou o pai pelo braço e este levantou-se resmungando. Saíram a passos largos e sumiram num beco escuro. Lá se foi o pai e a filha, e com eles meu tão sonhado vestido!
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