Fundado em 1985, o Aeroporto Governador João Durval Carneiro operava, inicialmente, apenas voos particulares. Ao longo desses 32 anos de existência, o equipamento passou por inúmeras mudanças. E sofreu diversas interdições, por parte da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).Em 2011, começaram a ser realizados investimentos na infraestrutura. E, em setembro 2014, foi, finalmente, reinaugurado. A nova estrutura possibilitou, a princípio, a oferta de três voos semanais para Salvador e Vitória da Conquista, tendoBelo Horizonte como destino final.
A novidade gerou expectativas em autoridades políticas, empresários e também na população.Em vídeo divulgado pela Secretaria de Comunicação da Bahia (Secom), no dia da reinauguração, o então governador da Jaques Wagner, entusiasmado,mostrou vislumbrar grandes planos para o modesto aeroporto. Além de acreditar que o equipamento receberia investimentos satisfatórios, principalmente por estar localizado em uma região de grande potencial econômico e comercial, o ex-governador pensava além: “Tenho certeza que esse aeroporto pode se transformar também em um grande aeroporto de cargas, o que vai potencializar mais ainda Feira de Santana”, declarou.
Não foi o que aconteceu. Quase quatro anos após a reinauguração, o que se percebe é que o aeroporto decaiu consideravelmente, apresentando resultados absolutamente insatisfatórios. Atualmente, o equipamento oferta, apenas,um voo por semana. Segundo comparação feita pelos administradores da Fanpage Aeroporto de Feira de Santana,na rede social Facebook, dos dez aeroportos baianos, o terminal feirense fica em último lugar no quesito movimentação de passageiros.De acordo com dados da Anac,apenas 6.395 pessoas passaram pelo equipamento no ano de 2017. Feira fica bem atrás de cidades menores e esses números podem ser atribuídos à redução da oferta de voos realizados pela companhia Azul Linhas Aéreas.
Hoje, a administração do Aeroporto Governador João Durval Carneiro é de responsabilidade da Braxton Sistemas. A empresa do Rio de Janeiro, que conta com quatro sócios e administradores, assumiu o serviço em julho de 2017. Outro equipamento também administrado pela Braxton é o Aeroporto Regional de Sorriso (MT).
OUTROS VOOS - Em uma de suas últimas visitasà Feira de Santana, em dezembro do ano passado, o governador Rui Costa disse que vem insistindo com outras companhias aéreaspara que seja aumentada a quantidade de voos no aeroporto feirense. Segundo Rui Costa, as empresas relatam dificuldade de viabilidade em razão da pouca distância em relação ao terminal de Salvador: “O maior poder aquisitivo brasileiro está no estado de São Paulo e todos os aeroportos regionais próximos a grandes aeroportos não se viabilizaram, a única exceção à regra é o aeroporto de Campinas”, tentou justificar.
A informação dada pelo governador é rebatida na prática. Em todo o Brasil, não só em São Paulo, existem aeroportos próximos a terminais aéreos localizados em capitais que funcionam, e muito bem. Um dos exemplos é o Aeroporto de Campina Grande (PB), que está a 130 quilômetros do terminal de João Pessoa, capital paraibana.Para se ter uma ideia, o complexo aeroportuário de Campina Grande movimentou mais de 128 mil passageiros em 2016.Foram 3.405 voos e mais de 420 mil quilos de carga aérea.
O Aeroporto de Campina Grande, que tem capacidade para receber até 900 mil passageiros por ano,ainda conta com nove voos diários, sendo dois da empresa de linhas aéreas Gol e uma da Azul, que interligam o equipamento às cidades de São Paulo (SP), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), João Pessoa (PB) e Petrolina (PE).Os concessionários comerciais do terminal faturaram, em 2016, mais 1,4 milhão, distribuídos entre varejo (R$ 2.225,00), serviços (R$ 1.335.862,67) e alimentação (R$ 77.239,85).
Outro bom exemplo é o sítio aeroviário de Joinville, distante 83 quilômetros do Aeroporto de Navegantes (SC) e 131 quilômetros do terminal de Curitiba (PR). O equipamento movimenta, diariamente, uma média de 1,3 mil passageiros, 34 voos e mais de 5,2 mil quilos de carga aérea. Em 2016, 512 mil pessoas passaram pelo terminal de Joinville, para embarque, desembarque e conexões. Já no Aeroporto de Caxias do Sul (RS), distante apenas 128 quilômetros do terminal aéreo de Porto Alegre, foram 2.642 assentos por semana e 182 mil passageiros em 2016.
As distâncias que separam os três aeroportos citados dos terminais aéreos das respectivas capitais de seus estados são equiparáveis à quilometragem que separa o Aeroporto de Feira de Santana do complexo aéreo da capital baiana. Importa salientar também que, segundo o Relatório Executivo O Brasil que Voa, o projeto da Secretaria Nacional de Aviação Civil prevê que toda população deve estar a menos de 100 quilômetros de um terminal aeroportuário, uma vez que o modal aéreo deve atender aos requisitos de transporte coletivo de massa.Levando isso em consideração e tendo em vista que Feira de Santana está a 108quilômetros de Salvador, qual o empecilho, então?Diante de dados concretos sobre terminais aéreos de cidades em situaçãosemelhante, a justificativa usada pelo Governo do Estado para não viabilizar o Aeroporto João Durval Carneiro soa como improcedente.
Ainda de acordo com o governador Rui Costa, as empresas Tam, Gol, Azul e Avianca anunciaram novos voos para a Bahia, mais precisamente “para as cidades de Salvador, Ilhéus e Porto Seguro”. Segundo Rui Costa, Feira de Santana e Vitória da Conquista são destinos que ainda estão sendo estudados.No entanto, em uma audiência pública realizada em outubro de 2016, no Senado Federal, a Gol informou que os municípios baianos de Barreiras, Feira e Conquista também estava mentre os novos destinos para os quais pretendia voar. E em um prazo de até 20 meses. Para tanto, os aeroportos dessas cidades precisariam ser adaptados, o que não aconteceu.
Por isso outro dado que chama a atenção é que, diferentemente do terminal feirense, os aeroportos de Campina Grande, Joinville e Caxias do Sul também possuem homologação para operar voos guiados por instrumentos (IFR), fator que contribui,preponderantemente, para que as companhias aéreas utilizem esses terminais como rotas para viagens. O Aeroporto de Campina Grande, vale ressaltar, possui os equipamentos necessários, mas ainda não opera IFR. Mesmo assim, apresenta uma movimentação de passageiros e cargas mais do que satisfatória.
Em setembro de 2017, o deputado estadual Zé Neto, líder do governo na Assembleia Legislativa da Bahia, anunciou que, “em breve, os voos diários para São Paulo seriam uma realidade do Aeroporto de Feira”. Passados cinco meses, não houve novidades. O único voo comercial ofertado pelo terminal segue sendo o Feira - Salvador - Confins (MG).
O que existe, de fato, é um impasse. Companhias aéreas não querem investir no Aeroporto João Durval Carneiro porque as chances de terem problemas com pouso e decolagem são grandes. O equipamento não é adequado para atividades em dias nublados e chuvosos. E não permite aos pilotos operar voos guiados por instrumentos (IFR). Fatores como esses acabam por repelir aqueles que cogitam utilizar a Princesa do Sertão como rota em suas empresas.
CANCELAMENTO DE SERVIÇOS - No dia 12 de janeiro de 2018, o Serviço de Informação de Voo de Aeródromo (AFIS), o Serviço de Previsão Meteorológica (MET/CMA) e as Luzes de Aproximação de Precisão (PAPI) foram oficialmente excluídos do terminal aéreo feirense. Desde junho do ano passado, essas atividades estavam indisponíveis, mas, agora, com o cancelamento oficial, fica ainda mais difícil acreditar em melhorias na situação funcional do aeroporto e, consequentemente, na possibilidade de oferta de novos voos.
Atualmente, a situação do Aeroporto Governador João Durval Carneiro é bastante complicada. O equipamento, que só recebe um voo comercial por semana, conta com um pequeno salão de embarque e desembarque, uma lanchonete e um stand para locação de carros. Não existem cadeiras para os passageiros, nem locais para despachar malas. Enquanto isso, a população anseia por novos investimentos na estrutura do terminal, para que novos voos venham a movimentar a cidade, sobretudo no setor econômico.
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