Foto: Divulgação / Incra
Um balanço divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) põe a Bahia em um triste terceiro lugar em assassinatos por conflitos de terra no país. Foram dez mortes em 2017. O número é 150% maior do que o registrado em 2016, quando quatro pessoas morreram pelo mesmo tipo de conflito. Os dados são desta segunda-feira (16). Para ter noção da escalada violenta, em 2015 uma única pessoa veio a óbito por razões semelhantes. No ano passado, o caso mais sangrento ocorreu na comunidade quilombola de Iúna, em Lençóis, na Chapada Diamantina. Sete pessoas morreram ali, seis delas no mesmo dia, 6 de agosto. Segundo Ruben Siqueira, da coordenação da executiva nacional da CPT e assessor da instituição na Bahia, até agora nenhuma investigação prosperou. “O caso está parado. Não teve oitiva, ninguém foi preso mesmo. Até um inquérito, que é a peça chave do processo, é muito falho, inconcluso, não há busca de provas”, disse Siqueira em entrevista ao Bahia Notícias. Além das baixas em Lençóis, outros líderes quilombolas perderam a vida. Caso de José Raimundo Mota de Souza Júnior, o Júnior, em Antônio Gonçalves, no Piemonte Norte do Itapicuru, assassinado com dez tiros. Outro que foi executado foi Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, morto também com dez tiros. Completa os dez casos a morte de João Ferreira dos Santos, o João do Ouro, em Itamaraju, sul baiano. O crime ocorreu no assentamento Cruz do Ouro, em outubro do ano passado.
Binho do Quilombo, morto em Simões Filho | Foto: Simões Filho Online
Para Ruben Siqueira, a onda de assassinatos em área quilombolas traz um contexto novo às disputas no campo. Segundo ele, o as novas regulamentações de áreas para comunidades quilombolas ocorre ao mesmo tempo em que o agronegócio se expande. O caso de Lençóis – onde há terra fértil dentro da bacia do rio Paraguaçu – fez aumentar a cobiça na região. “Houve um avanço na identificação das terras, mas isso também fez com que os grandes grupos econômicos passassem a investir na região”, explica Siqueira. “Um dos dois bancos norte-americanos que levaram à crise imobiliária em 2008, que a gente sofre as consequências até hoje, o JP Morgan é sócio de um projeto de produção de leite em Jaborandi, no oeste baiano. Então, esses grupos procuram ali uma referência de terra, um bem real, que justifique segurança para seus investidores. Esse contexto explica o crescimento gradativo da violência no campo”, completa. No âmbito nacional, o estado que mais perdas teve com conflitos no campo foi o Pará, com 21 mortes. Desse total, 12 morreram na chacina de Pau D’Arco, que repercutiu para além das fronteiras do país. Depois do Pará, Rondônia, com 17 óbitos, aparece na segunda posição em crimes de terra. Nesta terça-feira (17) é lembrado o Dia Internacional de Luta Camponesa. A data é simbólica. Em 1996 ocorria o famigerado massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará. Dezenove trabalhadores sem-terra morreram sob tiros da Polícia Militar paraense. À época, as vítimas protestavam por reforma agrária e criticavam a demora na desapropriação de terras.
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