quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Conflito de interesses? Sem financiamento privado, presidentes de siglas têm 'vantagem'

Conflito de interesses? Sem financiamento privado, presidentes de siglas têm 'vantagem'
Foto: Agência Brasil
Nas eleições deste ano, 25 presidentes de partidos serão candidatos a algum cargo eletivo na Bahia. No comando das máquinas partidárias, estão nomes concorrerão desde deputado estadual até governador da Bahia. 

Entretanto, o fato de acumularem a direção de uma legenda com as candidaturas tem suscitado debates sobre um possível conflito de interesses entre o âmbito partidário e os anseios por espaços no Poder Legislativo ou Executivo. Recentemente, a questão foi colocada dentro do grupo de oposição ao governador Rui Costa com a formação das chapas proporcionais. 

Nos bastidores, o Bahia Notícias ouviu deputados da bancada oposicionista criticando os presidentes de partidos como PHS, PPS e PV por defenderem a chapinha, e não o chapão – coligação com todas as legendas – nas eleições para deputado estadual e federal. Para alguns deles, que não quiseram se identificar, o objetivo dos presidentes ao não ser coligar no chapão foi, simplesmente, fortalecer as próprias candidaturas – o grupo com todas as agremiações tende a desfavorecer aqueles que disputam em siglas menores.  Atualmente, PHS, PPS e PV são comandados, respectivamente, por Júnior Muniz (candidato a deputado estadual), Joceval Rodrigues (candidato a deputado federal) e Ivanilson Gomes (candidato à suplência de Irmão Lázaro para o Senado). 

Inicialmente, Ivanilson disputaria uma vaga na Câmara dos Deputados, mas, segundo informações de bastidores, abaixou o tom sobre o PV não integrar a chapinha após ser agraciado com a suplência de Lázaro. Entretanto, as outras siglas, sem tanto espaço para barganha, mantiveram a ideia inicial e formaram uma coligação sem os partidos maiores.

Ao Bahia Notícias, Muniz negou que tenha proposto a chapinha para favorecer a própria candidatura à Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). 

“Se fosse nesse pensamento, eu estaria no chapão. Eu fui para a chapinha para beneficiar meus candidatos. Fiz isso num pensamento coletivo, para eleger uma maior bancada estadual e federal. Se eu estivesse no chapão, tinha certeza da minha eleição. Mas, como presidente, penso no coletivo”, defendeu.

Joceval também rechaçou ter usado a chapa menor em benefício próprio e justificou que a estratégia de apostar em sua candidatura para deputado federal foi desenhada pela própria Executiva Nacional da sigla. “Nosso partido sofreu uma mudança às vésperas do início da disputa eleitoral e não conseguimos montar uma grande coalização de candidatos. Ou o partido centralizava força em uma candidatura federal, ou poderíamos ter problemas por causa da cláusula de barreira. No PPS, não tem ciúmes. Temos problema zero em apostar na minha candidatura”, ponderou. 

 

Contudo, apesar de negarem os benefícios próprios que o cargo pode trazer, o posto de presidente de partido tem trazido cada vez mais dividendos para os dirigentes. Essa é avaliação do professor de Ciência Política Cláudio André de Souza. Segundo ele, após o fim do financiamento de campanha, gerir a máquina partidária ficou cada vez mais vantajoso para quem comanda uma legenda. 

 

“O espaço de burocracia partidária tem ganhado mais valor depois do fim do financiamento empresarial. O cargo de presidente acaba por dar mais importância, pois coloca-o em evidência mais internamente e externamente, com os diretórios municipais, por exemplo. No caso de presidente e candidato, a gente tem um espaço no qual esse candidato pode gerar benefícios para sua campanha e ter prestígio para gerenciar os recursos para a cozinha do seu partido”, explicou Souza. 

Ainda de acordo com o cientista político, o cargo ganha status de papel-chave porque fica diretamente responsável por montar coligações, ceder tempo de TV para aliados, recursos do fundo partidário para candidaturas majoritárias, além de poder ajudar na montagem do programa de governo e na composição de um futuro governo. Com isso, aumenta seu capital simbólico e poder de barganha política. 

Um caso emblemático de alguém que fortaleceu a liderança política após ter assumido a presidência de um partido foi o do senador Otto Alencar. À frente do PSD na Bahia, o parlamentar se cacifou a ponto de ser considerado quase como determinante para viabilizar a candidatura do governador Rui Costa (PT) à reeleição – nos bastidores, avalia-se que, sem a sigla, o petista teria muitas dificuldades de obter um novo mandato. Além disso, o PSD vem se tornando uma alternativa à polarização entre PT e DEM, forças partidárias históricas no estado. 

 

“O senador Otto esteve na montagem de um novo partido, o PSD, articulando um novo polo, uma nova feição da base governista. Se tornou uma liderança partidária, organizando o partido, ganhando destaque parlamentar num momento difícil de desembarque do partido do governo Dilma, quando, sendo governista na Bahia, ficou oposição ao governo Temer, mesmo o partido nacionalmente estando com ele. É um caso de liderança parlamentar que se torna partidária. O contrário pode ocorrer também”, avaliou. 

Ainda há também a possibilidade de políticos de menor prestígio conseguirem, por meio dos partidos, obterem maior cacife eleitoral. Na avaliação de Souza, com a cláusula de barreira e a necessidade das legendas menores elegerem a maior bancada possível para não ficar sem fundo partidário, isso deve acontecer bastante nesta eleição. “A estratégia provavelmente é se eleger e conseguir recursos para ganhar mais prestígio”, afirmou. 

CANDIDATOS-PRESIDENTES
Nesta eleição, 25 presidentes de partidos também serão candidatos a cargos eletivos. São eles:

João Santana (MDB) - governador
Benito Gama (PTB) – deputado federal
Félix Mendonça Jr (PDT) - deputado federal
José Carlos Aleluia (DEM) – deputado federal
Lídice da Mata (PSB) – deputada federal
Rivailton Veloso (PTC) - deputado federal
Heber Santana (PSC) - deputado federal
Alexandre Marques (PRP) – deputado federal
Joceval Rodrigues (PPS) – deputado federal
Pastor Sargento Isidório (Avante) – deputado federal
João Leão (PP) – vice-governador
Da Luz (PRTB) – deputado federal
Júnior Muniz (PHS) – deputado estadual
João Carlos Bacelar (Pode) – deputado federal
Dayane Pimentel (PSL) – deputada federal
Tia Eron (PRB) – deputada federal
Fábio Nogueira (PSOL) – senador
José Carlos Araújo (PR) – deputado federal
Uldurico Pinto (PPL) – deputado federal
Erivelton Santana (Patriota) – deputado federal
Dr. Jac (Pros) – deputado federal
Luciano Araújo (Solidariedade) – deputado federal
Ana Rita Tavares (PMB) – deputado federal
Ivanilson Gomes (PV) –  suplente de Irmão Lázaro
Davidson Magalhães (PCdoB) – suplente de Angelo Coronel

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