Foto: Reprodução / EBC
O ex-ministro José Dirceu afirmou nesta quarta-feira (29) que, se voltar ao Planalto, o PT vai patrocinar um movimento de pressão popular sobre o Congresso e o Judiciário para implementar um programa de governo radical. O petista disse que esse tipo de política, que poderia contar, inclusive, com o cerco da militância à Câmara e ao Senado, é legítimo para impulsionar as mudanças que o plano de seu partido propõe para o país.
Entre as propostas apresentadas com aval do ex-presidente Lula à Justiça Eleitoral estão as reformas tributária e do sistema bancário, com mais impostos sobre os bancos que cobrarem mais juros pelos empréstimos. "Temos um programa radical e a maioria no Parlamento precisa ser combinada com uma grande pressão popular", afirmou o ex-ministro em Brasília. "Que não nos critiquem por pressão popular, por cercar o Congresso Nacional com manifestações, porque foi isso que fizeram conosco no governo de Dilma [Rousseff]", completou em referência aos protestos que levaram ao impeachment da petista.
Em sua primeira coletiva de imprensa desde 2007, Dirceu disse que o PT prega a defesa de interesses sociais ao limite e que a sigla fará política como foi feita pelos adversários e opositores. "Eu não diria que é um programa 'com a faca no dente', porque essa expressão é praticamente de confronto aberto, ou seja, continuidade da política por outros meios. Nós vamos fazer política como foi feita pelos nossos adversários e opositores. É assim que vamos fazer, pelo menos se perguntarem minha opinião e eu tiver influência nas decisões", declarou.
Como revelou a Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (27), Dirceu voltou a operar no PT e tem ajudado a campanha do partido na sucessão presidencial, atuando como conselheiro da equipe e do próprio candidato a vice na chapa, Fernando Haddad.
Segundo o ex-ministro, que falou a jornalistas para o lançamento do primeiro volume de seu livro de memórias, o PT vai lutar até o limite máximo para tentar garantir a candidatura de Lula mas, se ele for impedido de concorrer pela Justiça Eleitoral, já está decidido que o herdeiro será Haddad.
Ao contrário de aliados do ex-prefeito de São Paulo, que ainda têm dúvidas sobre a eficácia de se fazer a substituição na chapa mais perto do primeiro turno, Dirceu afirma que 20 ou 30 dias serão suficientes para a transferência de votos de Lula para Haddad, e isso o levará ao segundo turno.
"Infelizmente não podemos escolher o melhor timing. Para a margem de transferência de votos ser dentro do que a gente espera, 20 ou 30 dias é mais que suficiente. A Justiça decidirá até 17 de setembro", disse. "Teremos tempo para cada eleitor tomar conhecimento de que Lula é Haddad e Haddad é Lula".
Os dirigentes do PT avaliam que o TSE (Tribunal Superior eleitoral) vai declarar Lula inelegível na primeira semana de setembro e, a partir daí, Haddad será oficializado candidato do partido ao Planalto. Na prática, haverá menos de um mês para o petista fazer campanha nessa condição -o que ainda gera temor em alguns de seus aliados.
Dirceu também se posicionou contra a Lei da Ficha Limpa, sancionada pelo próprio Lula e que agora é o entrave para o ex-presidente disputar a eleição deste ano. Segundo o ex-ministro, crítico ao TSE e ao Poder Judiciário, é o eleitor quem tem que decidir se um candidato é ou não inelegível.
Nesta quarta, o ex-ministro falou sobre o livro que escreveu enquanto estava preso em Curitiba. Condenado em segunda instância a mais de 30 anos por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa na Lava Jato, está solto desde junho por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) e agora sairá em uma espécie de caravana para divulgar a obra pelo país.
O livro já tem sofrido algumas críticas. O colunista da Folha Elio Gaspari, por exemplo, chama o depoimento de banal e diz que o ex-ministro parece "mais preocupado com a discussão das facções petistas do que com o governo que pretendeu comandar".
A cronologia da obra para em 2006, depois da saída de Dirceu da Casa Civil de Lula e da cassação do seu mandado após o mensalão. Ele, porém, diz que outro volume será escrito a partir do início do ano que vem para contar a história até 2015, com a queda de Dilma.
Durante a coletiva, Dirceu afirmou que o PT errou na política de alianças, com o MDB e demais partidos, e também ao praticar o caixa dois eleitoral.
Admitiu ainda que o mensalão e a Lava Jato tiveram um grande impacto na sigla, mas evitou dar detalhes sobre o que considera os maiores erros e não fez qualquer autocrítica mais ampla. "O PT pagou um preço caro, mas aprendeu", declarou. "Nossos erros recentes são muitos, mas vou escrevê-los no segundo volume".
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