Foto: Alan Santos/PR
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) falou na assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU) como se ainda estivesse no palanque eleitoral de 2018. Desde a citação à ameaça do socialismo, que batia à porta do Brasil, até a pauta de costumes, usual no discurso dele, tudo saiu como o script indicava. Ou seja, não houve surpresas, para a felicidade geral da nação. Isso não quer dizer, no entanto, que a abertura da ONU pelo brasileiro tenha sido pautada pela expectativa para um chefe de Estado. No caso de Bolsonaro, temos um presidente que insiste apenas em conversar com o próprio público e, inegavelmente, faz isso bem.
Durante os pouco mais de 30 minutos, o presidente costurou seu discurso com ataques aos adversários, com citações a ameaças à soberania nacional e com referências religiosas e às tentativas de colocar em risco “a família”. Absolutamente nenhuma novidade. Como um dos pivôs dessa dualidade política no Brasil, Bolsonaro confirmou suas teses para o público que o apoia desde o processo eleitoral e seguiu sendo rechaçado pelos opositores. Enquanto isso, a ONU e os líderes internacionais pouco viram efetivamente do que é o Brasil atual.
As indicações sobre a estabilidade política e econômica, por exemplo, ficaram em planos bem distantes da realidade. Foram parcas as citações e isso demonstra que, por mais que internamente tenham havido sinais de que o discurso tenderia ao tom de conciliação, o presidente optou por manter a belicosidade que o tornou conhecido. Em termos de avanços nas relações diplomáticas, Bolsonaro não foi longe e, a depender do ponto de vista, pode até ter retrocedido no comparativo com o histórico do comportamento do Itamaraty em questões delicadas, a exemplo das críticas da comunidade internacional à crise na Amazônia – negada com veemência por todos os integrantes do primeiro escalão federal brasileiro.
Para os adversários de Bolsonaro, a fala foi um desastre. É uma questão de ponto de vista, já que da mesma forma aliados o defendem com todas as forças. Claro que, dentro de uma perspectiva contemporizadora do Brasil no cenário mundial, sempre havia a esperança que o presidente atuasse de maneira menos suicida do ponto de vista político. Acontece que, no caso do atual chefe do Executivo brasileiro, foi esse tom que o alçou à condição de salvador da pátria, razão pela qual não seria abandonado apenas para ser melhor visto na assembleia da ONU – órgão ao qual Bolsonaro ameaçou deixar, quando ainda era recém-chegado no cargo.
Encerrado o discurso e a eventuais polêmicas surgidas, o assunto não teve tanto destaque na imprensa internacional. O noticiário internacional passou a ser ocupado pelo anúncio da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, de que o presidente Donald Trump seria alvo de um processo de impeachment. Foi a cereja do bolo para distrair as atenções de possíveis derrapadas do brasileiro na ONU. Como nem tudo são flores, foi o mui amigo de Bolsonaro na Casa Branca que acabou no meio da roda. Um golpe de sorte. Só não sei dizer exatamente para quem.
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