Foto: Alan Santos/PR
As expectativas econômicas são um fator-chave para empresas e investidores europeus decidirem se apostam ou não no Brasil -e fontes ligadas ao comércio exterior e a bancos de investimento da Europa afirmam que o cenário de instabilidade gerado pela guerra tarifária entre Estados Unidos e China já afeta o fluxo de capital em direção ao mercado brasileiro.
Nesse ambiente de aversão ao imprevisível, pesa contra o país a troca de farpas entre o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), e o presidente da França, Emmanuel Macron, por causa das queimadas na Amazônia, em especial pelo impacto da desavença sobre acordo entre União Europeia e o Mercosul, cuja elaboração consumiu 20 anos.
"Temos que sair desse pingue-pongue de pressão e contrapressão antes que uma das partes chegue a um patamar de não retorno [na hostilidade]", avalia Mark Heinzel, diretor para as Américas da Associação das Câmaras de Indústria e Comércio da Alemanha.
O alemão ressalta que a corrente comercial entre Brasil e Europa é forte, e a expectativa de ampliação das trocas era muito positiva, mas que a escalada de tom de Bolsonaro e o teor "inesperado para o século 21" do que ele anda dizendo pode colocar em risco o pacto. "O que mais interessa [ao investidor] é a economia. A mudança de governo despertou grandes expectativas. É preciso que a nova gestão justifique essa confiança", afirma.
Ele destaca que, até agora, "os discursos do presidente não ajudam a fomentar essa confiança, mas sabemos que, no Brasil, sempre há diferença entre o que se diz e o que acontece de fato, até porque a democracia funciona, as leis são seguidas".Para o advogado Charles-Henry Chenut, conselheiro de comércio exterior do governo francês, ocorreu a substituição da euforia manifestada logo após o anúncio da vitória de Bolsonaro por um estado de apreensão na última semana, pelo agravamento da crise diplomática entre Paris e Brasília.
"Houve um ensaio de 'french bashing' [difamação da França], com convocações ao boicote de produtos do país. Mas logo vimos que essa politização não iria pegar. Os brasileiros não são politizados no geral, e ainda menos no consumo, área em que mostram pragmatismo extremo."
Para Chenut, o fiador econômico do Brasil é o ministro da Economia, Paulo Guedes, e haveria um problema se ele deixasse o cargo. "A questão verdadeira é o que vai acontecer com Guedes", diz. "Se pede demissão e as reformas não passam, tudo desmorona. Aí sim eu vou ficar preocupado."
Na visão de Chenut, as declarações inflamadas de Bolsonaro e equipe podem afetar aspirações do país em instituições como a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que o país tenta integrar) e a ONU (cujo Conselho de Segurança Brasília faz lobby para que seja reformado).
Ronaldo Patah, estrategista para mercados emergentes do UBS (banco suíço de investimentos), lembra que o novo governo viabilizou ofertas de ações vistosas, como a da BR Distribuidora e a do IRB Brasil Resseguros, e também fez concessões de aeroportos. E que estrangeiros aplicaram dinheiro nesses projetos.
No entanto, ele destaca que o México tem avançado como grande concorrente do mercado brasileiro pelo capital dos europeus, posição que só seria alterada se o governo do esquerdista Andrés Manuel López Obrador atrapalhasse. "A filosofia do governo brasileiro é de tirar barreiras, estimular o mercado. Os mexicanos estão indo para o outro lado."
O alemão Heinzel também vê no México o principal antagonista do Brasil, posição que se traduz em números amplamente favoráveis ao país da América do Norte, no que se refere ao investimento alemão. Enquanto o Brasil acumulou perdas de R$ 1,3 bilhão em aportes germânicos de 2016 a 2018, o México atraiu, no mesmo período, o equivalente a R$ 6,4 bilhões, diz Heinzel.
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