quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Culto à personalidade de Bolsonaro não justifica subjugar Brasil a interesses pessoais

Culto à personalidade de Bolsonaro não justifica subjugar Brasil a interesses pessoais
Foto: Isac Nóbrega/PR
O culto ao personalismo está presente na política do Brasil desde os tempos de Getúlio Vargas. O “pai” dos trabalhadores brasileiros foi um ditador no país, com bases fincadas no populismo, e ainda assim entrou para a história de maneira positiva. Porém cultuar mitos voltou à rotina nos tempos do lulopetismo e parece ter atingido um nível mais extremo com a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto. Somos um laboratório prático de José Saramago, em um ensaio sobre a cegueira. Infelizmente.

O presidente e o futuro partido Aliança pelo Brasil deram sinais de que basearão seu futuro próximo na onda que arrastou votos nas eleições de 2018, quando o bolsonarismo ganhou efetividade nas urnas. O discurso panfletário para convencer apoiadores foi inteiramente construído na evocação de Bolsonaro como “salvador da pátria” e responsável por expurgar o mal do país. É como se fosse imprescindível reforçar o nome do presidente como herói da nação para que se justifique toda e qualquer medida, inclusive aquelas que afrontem instituições democráticas – vide as constantes defesas à ditadura militar e ao conservadorismo radical em temas socialmente relevantes como direitos humanos.

Essa discussão sobre o personalismo desse “movimento político” é premente. Principalmente pelo fato de que os fins têm justificado os meios para atitudes pessoais no exercício da presidência da República. São diversos os episódios em que é possível ver indícios de subversão do Estado aos interesses particulares de Bolsonaro, seus filhos e do séquito de seguidores. Foi assim com o antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que acabou reduzido após emitir alertas sobre Flávio Bolsonaro. Ou quando foi oferecida uma embaixada para Eduardo Bolsonaro chamar de sua, mesmo que a qualificação do deputado para o cargo seja ter fritado hambúrguer nos EUA e manter uma relação de subserviência a Olavo de Carvalho e a Donald Trump. Pena que os exemplos não pararam por aí.

Nos últimos dias, no entanto, o ritmo de imposições pessoais caminha para degringolar. A Rede Globo teve a concessão ameaçada por divulgar informações de um inquérito em que o presidente foi citado por uma testemunha. A extinção do seguro obrigatório, o DPVAT, responsável por financiar uma gorda parcela do Sistema Único de Saúde (SUS), teria sido motivada por vingança ao ex-aliado Luciano Bivar, controlador de uma das empresas responsáveis pelo pagamento de indenizações. Mais recente ainda está a extinção da regulamentação da profissão de jornalismo, no meio de um pacote de medidas que coloca uma maquiagem para esconder uma minirreforma trabalhista. São sucessões de revanches que mostram que os movimentos não são mera coincidência. 

Porém, tal qual aconteceu com o getulismo e com o lulopetismo, há uma tendência à cegueira generalizada ou, pelo menos, majoritária, em meio a ataques simbólicos à democracia. Bolsonaro não é tão superpoderoso quanto pensam alguns aliados. E é preciso ter limites para o uso da máquina pública ao próprio favor. Sob o risco de não mais existir um Brasil quando tudo isso acabar.

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