quarta-feira, 25 de março de 2020

Sacrifício em prol do combate ao coronavírus tem que atingir vespeiro do setor público

Sacrifício em prol do combate ao coronavírus tem que atingir vespeiro do setor público
Foto: Reprodução/ Mais Fé
É tempo de sacrifício coletivo e não apenas das camadas menos abastadas da população, como alguns governantes ensaiaram provocar. Para além do uso de recursos do orçamento público para o combate ao novo coronavírus, é preciso também que todos os Poderes da República façam algum tipo de “doação”. O desafio é fazer com que membros dos Executivos, dos Legislativos e dos Judiciários “sofram” no bolso os impactos dessa crise com a Covid-19. Até aqui, na prática, o que se viu foi a alocação de dinheiro público para conter o contágio em massa.

Empresários, trabalhadores do setor privado, informais e desempregados são os mais atingidos pelas medidas restritivas aplicadas por governadores e prefeitos - a União ainda segue omissa nessa questão. Enquanto a iniciativa privada caminha para pagar a conta da Covid-19 no Brasil, o funcionalismo público mantém um nível de tranquilidade e de privilégio que não caberia no contexto atual. Se é para colocar um pouco de sangue no altar, talvez seja relevante estender essas doações involuntárias também a esse setor. Porém, na medida em que as restrições são impopulares, mexer com o funcionalismo não é um vespeiro atraente.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, até flertou com uma redução salarial para parlamentares. É algo muito incipiente e cujo efeito prático é pequeno. Cortar penduricalhos e regalias seria muito mais útil, porém sem a lógica marqueteira de “dar sua contribuição”. Esses benefícios “escondidos”, como um número gigantesco de cargos de confiança e de reembolsos, não são tão visíveis. Abrir mão do fundo eleitoral e do fundo partidário, por exemplo, teriam muito mais impacto do que esse “gesto”. Quem aposta que essa “doação” vai acontecer integralmente?

Ah, antes que citem as emendas parlamentares direcionadas para o combate ao coronavírus como um ato de nobreza, isso engana quem não entende que esse dinheiro nunca foi dos deputados, federais ou estaduais, e senadores. É recurso público que teria uma destinação alheia e que, em um momento de crise, deveria ser automaticamente transferido para a calamidade ao invés de servir como “moeda” com as bases eleitorais. Aqui não tem nenhum menino.

E o Judiciário? Que tal falar dos anexos aos salários que permitem que os rendimentos ultrapassem o teto constitucional? Ou também do inchaço da folha salarial da mãe Justiça, que paga salários astronômicos para funções simples? Não precisa ser para sempre, é só enquanto durar essa crise sem precedentes no passado recente. Se bem que, no alto da zona de conforto, é melhor não arriscar perder esses benefícios, não é mesmo?

Não precisa ser a morte de Isaque, como quase fez Abraão na Bíblia. E também não precisa ser um cordeirinho, já que estamos numa fase de politicamente correto. Porém coçar o bolso é algo que cabe para todo mundo. 

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