quarta-feira, 13 de maio de 2020

Adiar o Enem é questão humanitária, mas MEC insiste em preconceito contra mais pobres

Adiar o Enem é questão humanitária, mas MEC insiste em preconceito contra mais pobres
Fotos Mateus Pereira/ GOVBA
A manutenção das datas para a realização do Enem em novembro de 2020 mostra que o Estado brasileiro segue preconceituoso com as classes mais pobres e com acesso restrito à educação de qualidade. E não adianta partir do pressuposto que o cenário mudou após a saída do PT do poder, pois esse problema é crônico e dificilmente será solucionado em um curto espaço de tempo. É uma piada de mau gosto celebrar o “sucesso” do primeiro dia de inscrições, como fez o ministro Abraham Weintraub.

Continuar com o calendário regular para o exame do ensino médio, com aulas suspensas em praticamente todo o país desde o mês de março, expõe a despreocupação do governo federal com os estudantes. O que vale, na verdade, é fingir que estamos em condições normais de temperatura e pressão.  Não estamos e não vamos estar num curto espaço de tempo. Nem mesmo os calendários das universidades, cujo Enem é a principal porta de ingresso, deve ser regularizado até o final de 2020.

Enquanto filhos dos ricos ficam no conforto dos lares acompanhando aulas online, muitos estudantes do ensino público lidam, por exemplo, com a falta de acesso à internet para simular um aprendizado que não existe. Enquanto a classe média consegue compensar essa ausência da escola física com outras formas de ensino à distância, as famílias pobres estão preocupadas com a provável falta de comida na mesa, frente à demora da chegada do auxílio estatal para suprir essa lacuna.

O Brasil não é um país de iguais. O Enem, mesmo com inúmeros defeitos, oportunizou que haja algum tipo de concorrência menos desleal entre a elite brasileira e aqueles que passaram a vida lidando com o sucateamento do ensino público. É muito pouco, mas é melhor do que nada. E mantê-lo nos mesmos moldes de anos anteriores, quando as aulas transcorriam de maneira regular, é mais que injusto. É desumano e cruel. É reservar as universidades para quem não tem que vender o almoço para comprar a janta.

Se vão crucificar alguém por discordar da postura federal de negar a pandemia do novo coronavírus, que não sejam os estudantes, ainda no início das próprias vidas. Já que o governo opta por ver mortes agora, que ao menos não mate o futuro do país. Adiar o Enem é um gesto que vai além da gestão. É uma questão de princípios. E da prioridade correta.

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