segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Redução de taxa na mistura do biodiesel pela ANP pode aliviar escassez de acarajé

 

Redução de taxa na mistura do biodiesel pela ANP pode aliviar escassez de acarajé
Foto: Reprodução / Ipac.ba

Uma medida tomada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) na última quinta-feira (13) poderá beneficiar indiretamente uma das iguarias mais celebradas do Brasil. A redução temporária de 12% para 10% na mistura de biodiesel no diesel poderá contribuir para aliviar a escassez de azeite que ameaça o futuro das vendedoras de acarajé.

 

Tombado como patrimônio cultural de natureza imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o ofício das baianas de acarajé enfrenta, nos últimos anos, o declínio da produção de azeite de dendê, um dos principais ingredientes para a produção do petisco. Normalmente, as baianas usam o óleo de palma produzido no Pará para substituir o azeite amarelo-avermelhado, mas a produção paraense está sendo cada vez mais destinada à exportação e para a produção de biodiesel, segundo a Agência Brasil. 

 

Na insuficiência de óleo de palma, as vendedoras de acarajé têm recorrido aos estoques de azeite de dendê. A pandemia do novo coronavírus aliviou a situação por alguns meses, mas a reabertura da economia pôs a escassez novamente em evidência. Com os estoques de azeite de dendê praticamente zerados, o preço do vasilhame de 16 litros dobrou, passando de R$ 65 para uma faixa entre R$ 125 e R$ 130 de abril para agosto.


Em relação à produção de combustível, a retomada da atividade econômica também agravou o problema. Ao anunciar a redução da mistura do biodiesel no diesel, a ANP tinha informado que a medida foi necessária para dar continuidade ao abastecimento nacional, porque a demanda por diesel B continuou alta no início da pandemia e deverá aumentar com a reabertura dos negócios. Em nota, a BR Distribuidora, considerou a decisão acertada, mas cobrou medidas mais urgentes, ainda para agosto, para manter o equilíbrio no fornecimento.

 

As vendedoras de acarajé representam o elo mais frágil de uma batalha de mercado. Consumidoras finais de azeite de dendê e de óleo de palma, elas não podem repassar o encarecimento das matérias-primas para os preços por causa do desaquecimento da economia. No auge da pandemia, a maioria parou de trabalhar e só agora está reabrindo os negócios, com preocupação.

 

“A nossa situação está desesperadora. Agora que as baianas estão retornando, não conseguem comprar o azeite. E, quando conseguem, não podem repassar essa alta [do preço da matéria-prima] para os clientes“, diz Rita Santos, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Beiju, Mingau e Similares (Abam). A entidade lançou uma campanha de doação para aliviar a situação das vendedoras mais afetadas.

 

Por trás da escassez de dendê, está a queda na produtividade dos extrativistas. Tradicionalmente, o azeite de dendê vem de oito municípios da costa sul da Bahia, em esquema de produção familiar, com pequenos produtores que não recebem assistência tecnológica de órgãos como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Desde 2017, a produção caiu 37,8%, segundo o Sindicato dos Produtores Rurais de Nazaré (BA). Somente no primeiro semestre deste ano, a produção foi 7,8% inferior ao do mesmo período do ano passado.

 

Segundo Rita Santos, a redução da mistura de biodiesel alivia temporariamente a situação das vendedoras de acarajé. Para ela, o problema das vendedoras de acarajé só será resolvido com investimento maciço do governo nos pequenos produtores.

 

“A medida da ANP é uma ajuda importante, mas pequena porque a gente enfrenta a concorrência com a Petrobras, que compra tudo, e porque o verdadeiro problema está nos produtores de dendê da Bahia. Eles usam equipamentos muito defasados, principalmente para armazenar o óleo. Os tonéis, que hoje estão enferrujados, deveriam ser em a

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