A terceira fase da reabertura das atividades comerciais em Salvador foi adiada por tempo indeterminado. Havia uma expectativa de que, cumpridos os requisitos mínimos, a prefeitura autorizasse o funcionamento de cinemas, teatros e parques. Isso ocorreria na próxima segunda-feira (24). Não ocorrerá mais. O prefeito ACM Neto confirmou que não pretende autorizar o início da última fase do protocolo definido em conjunto com o governo da Bahia. E comprovou que os critérios objetivos sempre foram base de um jogo que também envolve as concessões que a política exige.
Política é também uma arte de produzir gestos. Em julho, quando ACM Neto e o governador Rui Costa apresentaram o protocolo de reabertura, a sociedade esperava uma sinalização clara dos gestores de que havia a possibilidade de retomar as atividades. Havia muita pressão e, ao trazer a público esse regramento, prefeito e governador mostraram estar “antenados” às demandas dos mais diversos setores econômicos. E passados os primeiros momentos de flexibilização, foi possível medir como esses segmentos reagiram. E como os outros segmentos poderiam reagir, caso fossem autorizadas novas reaberturas.
No espaço entre as fases 1 e 2 da reabertura já foi possível identificar que havia subjetividade envolvida no processo de liberação das atividades econômicas. Na apresentação do protocolo, eram necessários cinco dias consecutivos com, no máximo, 70% de ocupação dos leitos de UTI adulto na capital baiana. Quando a primeira etapa foi iniciada, o prefeito indicou que não eram necessários dias consecutivos, apenas que fossem cinco dias com esse percentual de ocupação em um espaço de 14 dias, o tempo mínimo entre as fases.
Esse critério objetivo seria alcançado numa sexta-feira imediatamente anterior ao Dia dos Pais. Temendo um movimento forte nos restaurantes naquele domingo, ACM Neto anunciou que a fase 2 começaria na segunda seguinte. Ou seja, o posicionamento do prefeito e da própria equipe se sobressai sobre qualquer anúncio prévio dos requisitos até então estabelecidos. Não é ilegal, já que o Supremo Tribunal Federal autorizou que governadores e prefeitos definissem medidas restritivas durante a pandemia. Mas é adequado mudar as regras com a bola rolando?
Nesse caso, sim. Por mais que a população siga pressionando, atividades mais “supérfluas” podem – e devem – ficar fora do regime prioritário quando o que está do outro lado da balança são vidas. ACM Neto sabe disso. E sabe medir politicamente as decisões que toma. Até aqui, tem dado certo.
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