Não é culpa do Senado que um de seus membros, Chico Rodrigues (DEM-RR), tenha sido flagrado com mais de R$ 30 mil nas partes íntimas. Porém os senadores se tornam cúmplices dessa patetice (não vou chamar de crime para não ser processado) ao aceitar de bom grado o pedido de licença por 121 dias, feito pelo ilustre portador de uma mala na cueca. Chico Rodrigues e suas nádegas recheadas representam mais o Brasil que futebol e caipirinha.
Em um país sério, o episódio exigiria a renúncia de um senador. Porém não se percebe tanta hombridade em alguns parlamentares, que preferem tratar dinheiro na cueca como algo corriqueiro, como uma forma apenas diferente de pagar funcionários. Como o mandato é uma capitania hereditária, quem assume é o filho dele, Pedro Rodrigues. E tudo vai ficar em casa mesmo. Afinal, o herdeiro terá o papel de defender o legado constrangedor do pai, já que o Conselho de Ética não tem qualquer previsão de votar o afastamento definitivo de mais essa mácula na já conturbada história do Senado.
O velho Antonio Carlos Magalhães, que em 2001 renunciou ao mandato após o escândalo da violação do painel eletrônico do Senado, também passou o bastão para o próprio filho. No entanto, passou pelo julgamento dos pares no Conselho de Ética antes de dar adeus à Câmara alta, um ano antes de voltar eleito pelo voto popular. Chico Rodrigues sequer passou por isso. Parte dos senadores silenciou diante do ultraje e o órgão que poderia puni-lo - e do qual ironicamente era membro - está de licença até o próximo ano. Ou seja, a comparação entre ACM e Chico, que seria natural, é bem imprópria.
Chico Rodrigues, que já manteve um relacionamento sério - hétero - com o presidente Jair Bolsonaro foi, em tese, enterrado vivo politicamente. Isso contando com a enorme chance de, passados os 121 dias de licença, a população esquecer o constrangimento que foi encontrar R$ 250 muito bem escondidos, em um lugar que a Polícia Federal não conseguiu descrever sem ampliar a sensação de vergonha alheia. Nada é tão ruim que não possa piorar, jovens.
Mas, na maré de azar de Chico Rodrigues, a suspensão do afastamento dele determinado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), serviu de alento. Como os senadores estavam dispostos a derrubar a decisão de Vossa Excelência, foi melhor recolher as espadas do que partir para um embate público entre os Poderes da República - já nos bastam as sucessivas crises criadas pelo Executivo.
Em um país que naturaliza tantos absurdos, o que é uma peça íntima recheada por algumas dezenas de cédulas? Chico Rodrigues se agarrou a essa cueca como uma boia. E parece ter se salvado.
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