A substituição de Pacheco Maia por Michele Gramacho na diretoria-geral da Fundação Paulo Jackson (FPJ), braço da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), parece pouco relevante dentro do cenário político estadual, mas é um pequeno prenúncio da disputa que se avizinha pelo governo estadual em 2022.
Pacheco é ex-secretário de Comunicação do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, atual presidente nacional do Democratas (DEM). Michele é filha da prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, do PT, principal antagonista do DEM no estado.
Michele assumiu o cargo após o novo presidente da AL-BA, Adolfo Menezes (PSD), dar aos petistas o comando da entidade. Um reconhecimento ao apoio do partido à sua eleição e que marca a aproximação política entre PT e PSD, duas das maiores siglas da base aliada ao governador Rui Costa, que pretendem marchar juntas nas eleições de 2022.
A Fundação Paulo Jackson é responsável por administrar os canais de comunicação da Casa, como a TV ALBA e a Rádio ALBA. É alvo de cobiça por gerenciar contratos milionários e pela possibilidade de alocação de indicados políticos.
A entidade é reduto da oposição desde 2017, como recompensa do então deputado estadual Angelo Coronel (PSD) pelo apoio do grupo, essencial para sua eleição como presidente da Casa, em uma articulação conduzida pelo atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM). O acordo foi mantido pelo sucessor de Coronel no comando da AL-BA, Nelson Leal (PP). Bruno, então, alocou aliados em postos-chave na fundação. Um deles foi Igor Dominguez, seu atual secretário particular na prefeitura, que foi diretor-geral da entidade. O outro, Bruno Moraes, irmão do ex-chefe de gabinete de ACM Neto, Kaio Moraes, que assumiu como diretor de programação.
Com Adolfo Menezes (PSD) na presidência da AL-BA, no entanto, a coisa mudou de figura. O Bahia Notícias ouviu de três deputados da oposição, em condição de anonimato, que ele não fez nenhum tipo de acordo para manter o bloco no comando da fundação. Pesou nisso o fato de Adolfo ter conseguido dentro da base governista a quantidade de votos necessária para se eleger, sem precisar do apoio dos oposicionistas. Neste cenário, a perda da fundação era considerada provável pela bancada da oposição.
Além dessas questões, o PT já visava o espaço em gestões passadas e viu no apoio irrestrito à candidatura de Adolfo - o partido foi o primeiro a declarar voto no social-democrata - a oportunidade de abocanhar mais este naco de poder na AL-BA. Logo após o novo presidente assumir a cadeira, Pacheco foi exonerado do cargo e substituído por Michelle, filha de Moema Gramacho. Além dela, Almir Pereira dos Santos foi nomeado Diretor Financeiro da instituição. As indicações são atribuídas a articulações do senador Jaques Wagner e do líder do governo na Assembleia, deputado Rosemberg Pinto, ambos petistas.
A reportagem também apurou que a nomeação de Pacheco como diretor-geral da fundação gerou reação no governo. Nas palavras de um deputado da oposição, a indicação foi vista como sinalização de que a entidade teria virado uma espécie de “puxadinho do Palácio Thomé de Souza” por abrigar nomes ligados a ACM Neto e Bruno Reis.
Parlamentares oposicionistas pediram ao prefeito que evitasse indicar alguém para o lugar de Igor Dominguez, já que o substituto poderia ser exonerado em pouco tempo. Bruno, no entanto, insistiu em Pacheco, que deixou o cargo menos de um mês após ser nomeado.
A oposição não pretende reivindicar novos espaços para "compensar" as perdas, afirmou o líder do bloco, deputado Sandro Régis (DEM). “Nunca discutimos, tratamos de acordo com o presidente em relação à Fundação. Nossa preocupação está muito além dos cargos, nossa preocupação é combate ao Covid-19. Essa questão de cargos não é foco da oposição”, declarou.
Enquanto a oposição perde espaço na AL-BA, o PT se hipertrofia no Legislativo estadual. Além da FPJ, o partido obteve duas vagas na Mesa Diretora da Casa, uma a mais do que obteve na gestão anterior.
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