Um estudo aponta que a maioria dos pacientes que sobrevivem à forma grave da Covid-19 tendem a apresentar sintomas prolongados ou sequelas da doença. A condição tem sido chamada de Covid longa ou subaguda e foi apresentada em Webinário pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
"Há mais de um ano sofremos as consequências da pandemia de COVID-19 e, com o tempo, fomos percebendo que, para além de problemas relacionados à transmissão, infecção e mortes, a COVID-19 pode trazer também consequências de longo prazo para pacientes. Como essas implicações ainda não estão completamente entendidas pelos cientistas, é muito importante estimular a troca de conhecimento e de experiências entre pesquisadores de todo o mundo", disse Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP, durante apresentação no início do mês.
Na ocasião, cientistas brasileiros e dos Estados Unidos apresentaram os primeiros resultados de estudos que estão sendo desenvolvidos sobre o impactado pronlogado da doença.
Segundo os dados, no Brasil, 882 pacientes que estiveram internados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP) estão sendo monitorados para aspectos pós-Covid. Os participantes tiveram a forma grave da doença e dois terços foram atendidos em Unidade de Tratamento Intensiva (UTI).
Os pesquisadores apontam que ocorrência de sintomas após a alta hospitalar é elevada. Do total, 89,3% apresentaram sintomas persistentes, como cansaço, dores pelo corpo e dispneia. Além disso, 58,7% relataram pelo menos um sintoma emocional ou cognitivo, como perda de memória (42%), insônia (33%), concentração prejudicada (31%), ansiedade (28%) e depressão (22%).
“Esses sintomas estão todos inter-relacionados. Em outras palavras, o que verificamos é que uma pessoa que reclama de perda de memória também relata insônia, ansiedade e depressão. É importante destacar que esses resultados foram ajustados em relação aos sintomas apresentados antes de as pessoas terem COVID-19”, afirma Geraldo Busatto, coordenador do Laboratório de Neuroimagem de Psiquiatria do HC-FM-USP e coordenador do estudo.
Ele também ressalta que os participantes do estudos apresentaram um resultado pior ao realizar tarefas cognitivas, especialmente na faixa etária entre 60 e 75 anos.
QUALIDADE DE VIDA
Segundo a FAPESP, outro estudo está em andamento no país e envolve mais de 55 centros de pesquisa. O objetivo é investigar as consequências de longo prazo na qualidade de vida de cerca de mil pessoas adultas que foram hospitalizadas.
“Os dados preliminares mostram que seis meses após a alta hospitalar a mortalidade é alta (6,9%), e a re-hospitalização, comum (16%). Entre os pacientes que fizeram uso de ventilação mecânica, esses dados são maiores: 24% morreram seis meses depois da alta hospitalar, contra 2% dos que não precisaram de ventilação mecânica. Em relação à re-hospitalização, ela foi de 40% contra 10% em relação à ventilação mecânica. São diferenças estatísticas significativas, mesmo após o ajuste de covariantes como idade e comorbidades", disse Regis Goulart Rosa, médico intensivista do Hospital Moinho de Vento em Porto Alegre (RS) e um dos coordenadores do estudo.
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