A mobilização contra Jair Bolsonaro neste domingo (12) estava fadada ao fracasso - e foi. Só serviu para endossar a farsa de que as ruas são a voz do povo. Com um pequeno contingente, os atos serviram mais a favor do presidente do que contra. Afinal, MBL e Vem Pra Rua, próceres no impeachment de Dilma Rousseff, foram engolidos pelo bolsonarismo e respiram por aparelhos na disputa por ascendência nas bolhas virtuais. A direita nutela, que por vezes recebeu aval da mídia como grande voz, estourou as pregas vocais após a ascensão de Bolsonaro.
Não que a reivindicação não seja justa. Os excessos presidenciais têm levado o país à boca de um abismo, quase que deixando o Brasil dependurado em linhas muito finas. O impeachment de Bolsonaro é um caminho que dificilmente será traçado por agora, especialmente após o embarque da guangue emedebista, representada pelo vampírico Michel Temer. O Palácio do Planalto voltou a dar guarida ao MDB e o "mercado" e a cena política aprovaram, como se fosse possível moderar o imoderável (sim, é a Bolsonaro que me refiro). Além de crimes de responsabilidade, o impedimento de um presidente se faz com condições políticas. E o anti-stablishment Bolsonaro sabe como funcionam esses esquemas - passou quase 30 anos como parte deles e ainda assim se vendeu como bom moço.
A esquerda clássica preferiu, dessa vez, não ser massa de manobra. Pudera. Não dá pra aderir a um movimento organizado pelas faces da derrocada do lulo-petismo da presidência. E eles não estão errados. Participar de um ato contra Bolsonaro pregado por grupos que não são tão lá afeitos à democracia é um risco que vale a pena para os desesperados por votos da direita não extrema, vide a participação de Ciro Gomes e João Doria - e até Alesandro Vieira (quem?) - nas manifestações. A democracia só existe se nascer no seio da esquerda, pensam muitos. Por isso, as ditaduras esquerdistas são tão imaculadas quanto a subserviência a Luiz Inácio Lula da Silva - mas isso é tema para muitos outros debates.
Para demover Bolsonaro e asseclas do poder será necessário mais do que voto. O discurso latente do 7 de Setembro, seguido pelo recuo temporário, é só um dos sinais disso. O bolsonarismo representa a putrefação das instituições democráticas e ainda não é perceptível que a sociedade brasileira tenha enxergado isso. Não esperemos também que os partidos políticos e as ideologias menos propensas ao autoritarismo consigam visualizar tão cedo que é preciso mais do que lapidar diferenças para caminhadas conjuntas. É preciso encontrar um denominador comum, algo que o eco da antipolítica faz questão de destruir.
O ato da direita nutela fracassou e ajudou Bolsonaro. Os atos da esquerda não fazem cócegas no sistema político. E os reais problemas, como inflação, fome e sucessivas crises, ficam de fora do debate público. Até a voz do povo realmente ecoar. Aí é exigir demais até mesmo dos otimistas. Lembra o Brasil como o país do futuro? Ele permanece preso ao próprio passado.
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