Depois de fracassar na tentativa de venda da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a Petrobras decidiu retomar investimentos para concluir as obras da unidade, que haviam sido suspensas após o início da Operação Lava Jato.
A expansão é parte de um orçamento de US$ 2,6 bilhões (R$ 14,5 bilhões, pela cotação atual) previsto pelo novo plano de investimentos da estatal em seu parque de refino, que pretende elevar a capacidade de produção de diesel menos poluente no Brasil.
Conhecida como Rnest, a Abreu e Lima permanece no plano de venda de ativos da Petrobras, mas a direção da empresa avalia que o fato de estar inconcluída pesou nas negociações com interessados, que foram encerradas em agosto.
"Acreditamos que o término da obra vai adicionar valor ao ativo, possibilitando o desinvestimento com sucesso", disse em conferência virtual com analistas nesta quinta-feira (25) o diretor de Refino e Gás da estatal, Rodrigo Costa.
O plano prevê US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) para a Rnest, para ampliação de sua primeira unidade de refino e instalação da segunda, que era prevista no projeto original mas acabou sendo abandonada após o início das investigações sobre corrupção nas obras.
Hoje, a refinaria tem capacidade para processar 230 mil barris de petróleo. Com os novos aportes, a Petrobras espera ampliar essa capacidade em 145 mil barris por dia. A produção de diesel S-10, com menor teor de enxofre, na unidade crescerá em 95 mil barris por dia.
A Rnest foi projetada ainda no governo Lula como parte de um acordo bilateral de investimentos com a Venezuela, ainda sob o comando de Hugo Chávez. O projeto original previa uma unidade para processar o pesado óleo produzido pela estatal venezuelana PDVSA.
O projeto foi alvo não só da Lava Jato, mas de processos na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e no TCU (Tribunal de Contas da União), que chegou a lançar uma publicação sobre sua atuação no caso, batizada de "Gestão Rnest: uma história que precisa ser contada para não ser repetida".
O documento se propõe a mostrar "como uma ideia virtuosa e promissora pode se transformar num malogro comercial bilionário" e "como um sistema teórico de governança e compliance extremamente sofisticado pode ser subvertido ao ponto de enredar toda a alta administração de uma empresa".
Na conferência com analistas, a direção da Petrobras disse que o investimento ainda está sendo analisado pelas instâncias internas de governança e só será feito se a avaliação financeira indicar retorno para o capital empregado nas obras.
Lançado na quarta (24), o plano de investimentos para os próximos cinco anos é focado na exploração e produção de petróleo e gás, que receberão 84% dos US$ 68 bilhões (R$ 381 bilhões) previstos para o período.
Mas surpreende ao trazer novos aportes em refino, segmento do qual a Petrobras anunciou a intenção de reduzir significativamente sua participação, com a venda de 8 de suas 13 unidades, processo que depois foi avalizado em acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Além da Rnest, os outros projetos de expansão estão previstos para unidades que a estatal pretende manter em seu portfólio, a Refinaria de Paulínia (SP), a Refinaria de Duque de Caxias (RJ) e a Refinaria Henrique Lage, em São José dos Campos (SP).
As obras de ampliação nas três ampliarão em 132 mil barris por dia a capacidade de produção de diesel S-10, diz a estatal.
O plano prevê ainda a integração da Refinaria de Duque de Caxias ao Pólo GasLub, antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), para a produção de óleos para lubrificantes, diesel S-10 e querosene de aviação.
O Comperj também foi um dos principais projetos investigados pela Operação Lava Jato. Seria um complexo de refinaria e empresas do setor petroquímico, mas hoje tem foco no recebimento e processamento de gás natural do pré-sal.
A Petrobras e o governo do Rio de Janeiro tentam transformar a área em um distrito industrial voltado a negócios que consomem gás natural, como as indústrias química, de fertilizantes, vidro e cerâmica, por exemplo.
O diretor de Refino da Petrobras disse que a expansão das unidades da estatal não eliminará a necessidade de importação de combustíveis pelo país. Ele acredita, porém, que os compradores das refinarias que hoje estão à venda também investirão em ampliações.
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