Aprovados para venda no Brasil no final de janeiro, os autotestes começaram a ser comercializados em um período de alta de casos de Covid-19. Desde então, 32 produtos do tipo foram autorizados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Mesmo que sejam importantes, os autotestes não devem ser considerados como únicos dispositivos para o diagnóstico da Covid-19 porque podem ter um falso negativo. Além disso, parte da população ainda tem dúvida sobre quando optar por outros exames, como o RT-PCR.
Abaixo, veja as respostas a essas e a outras dúvidas.
O autoteste é a mesma coisa que testes rápidos?
O autoteste e testes rápidos de antígenos utilizam tecnologias parecidas que procuram partes da proteína do Sars-CoV-2 na pessoa suspeita de infecção.
No entanto, a Anvisa reitera que os testes rápidos não devem ser utilizados por leigos porque eles podem ter diferenças nas orientações de uso e em como fazer a coleta do material, sendo necessária a atuação de um profissional qualificado.
No caso de autotestes, a Anvisa também afirma que é importante observar se o produto foi aprovado --essa informação pode ser consultada no site oficial da agência.
Quando o autoteste é recomendado?
O autoteste deve ser utilizado quando alguém teve contato com uma pessoa que recebeu resultado positivo para Covid ou quando uma pessoa sente alguns sintomas comuns da doença, como febre, tosse, dor de garganta e perda do olfato ou paladar.
O instrumento, no entanto, não é recomendado para casos em que os sintomas já estão mais críticos. Segundo a Anvisa, em situações em que a pessoa já apresenta sintomas mais graves, como falta de ar ou saturação do oxigênio abaixo de 95%,recomenda-se que procure um serviço de saúde.
Para Raquel Stucchi, infectologista e professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o autoteste é um produto para situações em que a pessoa precisa obter rapidamente a resposta de uma suspeita para Covid.
"Você tem uma reunião e está na dúvida se está com Covid porque o nariz começou a escorrer. Então, você faz um autoteste. Se ele vier negativo, significa que naquele local a que você vai não estará transmitindo para outras pessoas", exemplifica.
Em qual dia, a partir do começo dos sintomas, deve-se fazer o autoteste?
A Anvisa recomenda que o autoteste seja feito entre o 1º e o 7º dia a partir do início dos sintomas. Caso não tenha sintomas, a agência diz que o autoteste deve ser feito a partir do quinto dia de exposição a pessoa que estava infectada pelo Sars-CoV-2.
Por outro lado, Stucchi explica que o ideal é que a coleta seja feita entre o terceiro e o quinto dia, principalmente nos vacinados. Isso porque os imunizantes podem dificultar a replicação viral, fazendo com que a pessoa tenha se infectado pelo vírus, mas ainda não haja detecção na região nasal. Por isso, a sensibilidade do autoteste pode demorar um pouco mais.
Somente o autoteste é suficiente para o diagnóstico da Covid?
A Anvisa afirma que o autoteste é um instrumento para triagem, a fim de evitar a disseminação do vírus. Assim, quando alguém faz um autoteste com resultado positivo, é possível se isolar rapidamente antes de transmitir a outras pessoas.
Para Stucchi, a grande vantagem é o custo dele e o fato de o resultado sair mais rápido. A infectologista, entretanto, ressalta que é necessário refazer novos autotestes caso o resultado do primeiro seja negativo ou procurar outros tipos de diagnósticos para a doença, como o RT-PCR.
Lorena Barberia, integrante do Observatório de Covid-19 BR e professora do Departamento de Ciência Política da USP, diz que, no Brasil, é importante melhorar a orientação da população para repetir a autotestagem.
"Muitos governos, quando distribuem os autotestes, falam que é importante continuar testando para acompanhar como está evoluindo", afirma a professora.
É possível ter falso negativo com um autoteste?
O autoteste usa uma tecnologia que averigua se proteínas do Sars-CoV-2 estão presentes na região em que se insere o cotonete. Sendo assim, é possível que alguém tenha se infectado, mas o vírus ainda não tenha tido capacidade de se replicar em larga escala.
É por isso que o autoteste pode ter um falso negativo. É também por esse motivo que, ao fazer um autoteste com resultado negativo, é necessário repetir pelo menos mais uma vez em até 48 horas para se certificar de que não houve infecção.
Mesmo assim, um resultado negativo é útil porque indica que a pessoa está com baixa possibilidade de transmissão. "Um autoteste negativo serve para dizer que, naquele momento, a pessoa até pode ter o vírus, mas está com uma quantidade baixa. Então o risco de transmissão se torna muito pequeno", afirma Stucchi.
A infectologista, no entanto, ressalta que a pessoa com sintomas de Covid e com o resultado negativo do autoteste ainda precisa continuar com medidas para evitar a transmissão, como uso de máscaras N95 e isolamento social. Repetir o autoteste também é necessário.
Quando devo optar por fazer um exame RT-PCR ou de anticorpo em vez de autoteste?
Diferentemente do autoteste, o RT-PCR tem uma chance menor de ter um resultado falso negativo. Uma das razões é pelo fato de que ele é feito em laboratório e, por isso, tende a ter uma coleta da amostra feita de maneira mais precisa.
Como o autoteste é feito em casa, pode ocorrer de a pessoa não coletar o material de maneira adequada, diminuindo a sensibilidade do produto. "A pessoa tem que introduzir o cotonete bem no fundo do nariz. Quando sai uma lágrima, nós falamos que está colhendo no lugar certo", afirma Stucchi.
Além disso, é importante observar atentamente às instruções do fabricante do autoteste a fim de coletar de forma adequada a amostra.
Outro tipo de teste para Covid são os exames de anticorpos. Eles observam se o organismo da pessoa já desenvolveu uma resposta imune ao Sars-CoV-2. No entanto, esses testes não são recomendados porque ainda não se sabe se anticorpos altos significam uma proteção prolongada para a doença, diz Stucchi.
"Um exame de anticorpo só seria útil para saber quantas pessoas já se expuseram ou que já tiveram alguma proteção contra a Covid. Mas ele não é útil para falar se está transmitindo, se está doente e nem para garantir que não vai mais adoecer [porque existem casos de reinfecção]", conclui.
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