Superado o furor da mídia e da elite do eixo Rio - São Paulo - Brasília, as cartas em defesa da democracia ficaram restritas aos círculos de poder dos três centros. Aqui e acolá aconteceram manifestações de apoio, mas a imensa maioria da sociedade civil permaneceu em silêncio, como se o ato na Faculdade de Direito da USP fosse um dia como outro qualquer. E foi. Porém os entusiastas dos documentos acabaram empurrando o episódio como uma tentativa da esquerda para mobilizar a população contra Jair Bolsonaro. Agora é lidar com a ressaca da ação.
Foram mais de 1 milhão de assinaturas no documento mais politizado dos dois - o da Federação das Indústrias de São Paulo se manteve em cima do muro para evitar celeumas com apoiadores de grande quinhão do bolsonarismo. No ato de leitura, até houve tentativas de tornarem “popular” o projeto, simulando uma diversidade inexistente na realidade. O povo, base da democracia, ficou muito aquém de ser representado pelos pedidos de respeito ao Estado de Direito, que constantemente desrespeita a própria existência da população (especialmente de pretos e pobres, mas isso é uma discussão mais profunda).
Assim que terminou o ato, a esquerda se apropriou dele. Transformou a assinatura numa fronteira para separar quem defende a democracia e quem é contrária a ela. É exatamente o discurso esperado pelos apoiadores do presidente Bolsonaro, aquele que deveria ser o alvo das críticas e ataques pelo histórico de questionar o funcionamento das instituições. É colocar todo mundo no mesmo balaio, ainda que outros fatores tenham levado a não endossar qualquer um dos documentos.
Parto do pressuposto que todos devem atuar para defender o Estado Democrático de Direito. Essa defesa deve ser no dia a dia e através de simbolismos como o último dia 11 de agosto. Porém o que se viu na última quinta-feira está muito longe de representar uma força efetiva contra a ameaça autoritarista real de Bolsonaro. Em 2018, também chegou a haver um pouco de mobilização contrária a eleição dele, por meio do movimento #EleNão, que não apenas não logrou êxito como também deu munição para quem o apoiava. Se for para evitar a instrumentalização do povo para as eleições, há um longo caminho a se percorrer.
Enquanto isso, os apoiadores do presidente seguem em mobilização para o 7 de Setembro, para refazer os passos de 2021, quando o próprio Bolsonaro vociferou contra a democracia e contra o Estado de Direito. O silêncio em defesa da democracia já é incômodo. A falta de capacidade de mobilização contra o uso do Dia da Independência como uma data para apoio irrestrito ao projeto de poder de Bolsonaro é ainda mais.
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