quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Empresário acionou Aras para barrar investigação, indica relatório da PF

                                                                                     

A Polícia Federal interceptou mensagens que mostram o dono da construtora Tecnisa, Meyer Nigri, acionando o procurador-geral da República, Augusto Aras, quando tomou conhecimento de que poderia ser alvo de uma investigação pela disseminação de mensagens de teor golpista. A informação veio a público através de reportagem do portal Uol, publicado nesta quinta-feira (24).

 

Nigri é conhecido por ser um dos empresários mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro. O pedido de investigação partiu do senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), com base em reportagem do site Metrópoles, parceiro do Bahia Notícias.

 

Em um dos diálogos obtidos pela PF, Aras lhe disse que iria localizar o processo e, antes de qualquer manifestação nos autos, antecipou seu juízo ao empresário: "Se trata de mais um abuso do fulano".

 

A crítica feita por Aras ao senador, sem cita-lo, deve-se a um histórico de desgastes entre os dois. Aras costumava reclamar, nos bastidores da PGR, sobre o grande número de pedidos de investigação apresentados por Randolfe.

 

Três semanas depois desse diálogo, a PGR pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o trancamento da investigação aberta contra Nigri e outros empresários, além da anulação de uma operação de busca e apreensão já deflagrada pela Polícia Federal por ordem do ministro Alexandre de Moraes.

 

 

A PF também identificou que Nigri montou uma rede de contatos dentro da PGR com o objetivo de tentar a "obtenção de proximidade e de facilidades" e usou a relação que tinha Aras para lhe apresentar demandas privadas. A corporação também identificou diálogos do empresário com um assessor da PGR e um encontro com a vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo.

 

“A análise das mensagens constantes no aplicativo do WhatsApp demonstraram que o empresário Meyer Nigri se aproveita da proximidade que possui com o sr. Augusto Aras, atual procurador-geral da República, para apresentar demandas privadas e/ou de interesse de grupos específicos (jurídico, políticos e/ou ideológicos)”, diz trecho do relatório da Polícia Federal.

 

OUTRO LADO

Procurado por meio da assessoria da PGR, Augusto Aras não respondeu. O advogado de Meyer Nigri, Alberto Toron, afirmou que ele não fez pedido para Aras interceder na investigação.

 

“Quando foi determinada a instauração do inquérito desse caso do grupo de WhatsApp, havia uma mensagem do senhor Meyer Nigri para o procurador-geral da República perguntando apenas o que ele acha. Não houve nenhum pedido de vantagem, de interferência, nada disso. A mim me parece que uma coisa é perguntar qual a sua opinião a respeito de uma coisa, e outra é pedir algum favor para que a autoridade X ou Y intervenha no sentido de favorecer a pessoa. Isso não há. O que há é somente a pergunta: 'o que você acha disso?'. Portanto, é o caso de se refutar a ideia de qualquer pedido de intervenção por parte do procurador-geral da República, qualquer vantagem ou privilégio nesse sentido, porque de fato não houve”, afirmou Alberto Toron, advogado de Nigri.

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