sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Chocolate da Bahia, dono de hit em eleição, revela compor jingle político em 40 minutos: "O segredo está em emocionar"

                                                                                 



 Quarenta minutos. O tempo não chega a ser nem a duração completa de uma partida de futebol, não chega nem ao 1º tempo que pode ser decisivo para um time, mas é nesse espaço que Raimundo Nonato da Cruz, mais conhecido como Chocolate da Bahia, consegue compor um jingle para uma campanha eleitoral.

 

Dono de mais de 90 composições, entre elas 'Haja Amor', 'Eu Sou o Samba', 'A Cobra Mordeu Caetano' e 'Menina do Cateretê', foi basicamente nesses 2400 segundos, que o cantor, compositor e instrumentista colocou na rua o jingle que fez com que João Henrique, na época pelo antigo PMDB, fosse reeleito prefeito de Salvador no 2º turno das eleições de 2008, com a música "Todo Mundo Tem um João".

 

 

Aos 81 anos, celebrados nesta sexta-feira (30), Chocolate segue em atividade e ainda compõe jingles com a mesma rapidez com a qual fazia na década de 70, mesmo que a tecnologia tenha mudado tanto a ponto de conseguir fornecer aos candidatos, jingles em questão de minutos com a Inteligência Artificial.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, o artista, que iniciou a carreira no mundo artístico no Mercado Modelo com rodas de samba que atraíam populares, artistas e intelectuais, como o escritor Jorge Amado, o poeta Vinícius de Moraes e o artista Carybé, revelou como iniciou a carreira na composição de jingles para a política.

 

"Minha história com jingle começou quando eu fiz as músicas para Cesta do Povo. Na época foi um grande sucesso, 'Eu quero meu povo nesse ano novo com mais alegria...'. Na época, gravei na WR, de Wesley Rangel e ganhou vários prêmios. Foi ali que as pessoas começaram a me procurar para pedir música para os candidatos".

Ao site, Chocolate revelou o tempo médio para compor um 'jingle que ganha eleição' e contou como é o processo para falar tanto em uma música tão curta quanto um jingle de campanha. "Em quarenta minutos eu faço uma música. Eu vou fazer perguntas ao candidato, se ele é a favor, se ele é contra. Se é de oposição, de situação, se é de esquerda ou de direita e a história da vida. Daí ele vai contar, se trabalha muito pelo social, pelo esporte, pelo lazer. Na luta pela segurança... O segredo está em emocionar o ouvinte".

 

Questionado sobre a média de jingles já feitos ao longo dos mais de 40 anos de carreira, Chocolate da Bahia foi franco: "Já passou de mil, porque nós temos 417 municípios, cada município com lança 10 candidatos, entre vereadores e prefeitos. Você imagina isso em quarenta anos de carreira? Fora os comerciais, sem ser o de política".

 

Para Chocolate, um dos atrativos na composição dos jingles para a política foi o dinheiro. "A gente tem que ter o dinheiro, quando eu vejo o cheiro do dinheiro eu fico feliz. Eu não me perdoo se o cara me pedir para fazer uma música, eu sabendo que o cara está ali com as notas de R$ 100 na mão 'Chocolate, o dinheiro está ouvindo a conversa', e eu não conseguir? Eu vou fazer é na hora. Nunca me recusei a fazer um jingle, só quando a pessoa é um mau pagador", conta ele que não revelou os valores que tem cobrado atualmente, mas afirma que ele varia a depender do cenário.

 

Para o compositor, que elege o jingle 'Todo Mundo Tem um João' como um dos mais marcantes da carreira como compositor para a política, o modo e o estilo de se fazer jingle foi mudando com o tempo e com as novas tecnologias, coisa que o artista não reprova, mas entende que não substitui o trabalho de compositores como ele e do filho, Tiago Carvalho, que seguiu os passos do pai na música e, além de compositor, é produtor musical.

 

"Hoje você pega uma música, você tira a voz do cantor e bota outro em cima cantando no mesmo arranjo. Eu não sou contra isso não, a pessoa tem que embarcar na modalidade. Quem quer um negocinho ligerinho vai atrás disso."

 

Nos últimos 16 anos, os "jingles" campeões tiveram uma similaridade, tirando a de João Henrique em 2006, dois lançados por ACM Neto, na época pelo DEM e a lançada por Bruno Reis em 2020, foram pagodão. 

 

O ex-prefeito de Salvador, que apostou em três jingles no primeiro ano que saiu como candidato, teve um deles com a voz de Márcio Victor cantando o "25 na cabeça". Já em 2016, o jingle de Neto, que buscava a reeleição foi na voz de Léo Santana cantando "É Neto Outra Vez". Na primeira eleição de Bruno Reis pelo DEM, o atual prefeito seguiu os passos de Neto e investiu no pagodão com Léo Santana, que cantou "Bora com Bruno".

 

Chocolate foge do estilo. Para o artista, o estilo de composições que ele faz para período eleitoral é o que vai conquistar o voto do eleitor, e não uma música que vá tocar no paredão e fazer o povo dançar.

 

"Me entristece quando as pessoas querem só pagode e eu sou mais a linha de Batatinha, de Everaldo Gentil, de Riachão, Nelson Rufino, Edil Pacheco, essa turma da velha guarda. Nessa hora que a pessoa me diz assim 'rapaz, eu quero um estilo bem para paredão', eu aviso 'Amigo, não me leve a mal, eu faço música para você ganhar o voto'. Eu faço música para a família, para os eleitores, para quem vai votar e não para maluco que quer ficar junto no paredão dizendo que quer descer na boquinha de garrafa e nem desce."

 

O Bahia Notícias levantou dados sobre os jingles dos três candidatos que serão entrevistados pelo Projeto Prisma no próximo mês e para as Eleições de 2024, o gênero musical predominante é o pagode em alguns estilos diferentes. O candidato Geraldo Júnior (MDB) lançou duas versões da mesma música com a opção "arrochadeira", a mistura do arrocha com o pagode. Confira:

  • Bruno Reis (União Brasil): jingle composto por Diana Aquino e Victor Marinho e cantado por Léo Santana
  • Geraldo Júnior (MDB): jingle composto por Lukas Miranda e cantado por Lukas Miranda, com versão também de Larissa Marques
  • Kleber Rosa (PSOL): equipe do candidato não informou responsáveis pela composição e por dar voz ao jingle

 

Vale lembrar que os jingles, por serem obras musicais, são protegidos pela Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98). Desta forma, o autor da obra, tem o direito exclusivo de autorizar ou proibir o uso de sua criação.

 

Os autores de obras artísticas ou audiovisuais usadas sem permissão para produção de jingle, ainda que em forma de paródia, podem solicitar que a divulgação do material seja interrompida. Para isso, é necessário requerer a cessação da conduta por petição dirigida às juízas ou aos juízes eleitorais.

 

Caso o jingle seja uma adaptação de uma música já existente, a autorização também deve ser obtida do autor da obra original.

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