Foto: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo
O dono da empresa UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou em depoimento à Justiça Federal em Curitiba na última terça-feira (2) que o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, o mandava diretamente ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para receber propina. De acordo com o blog do repórter Fausto Macedo, do Estadão, o delator afirmou que fez depósitos oficiais na conta do partido. Pessoa é um dos primeiros a realizar a colaboração premiada na Lava Jato. Este foi o primeiro depoimento público do delator. Durante a audiência, o juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato e profere as sentenças em primeira instância, instruiu o delator para que ele não citasse políticos com foro privilegiado durante o depoimento. O delator contou que Pedro Barusco, então gerente de Engenharia e braço-direito de Duque, foi seu primeiro contato na diretoria de Serviços da Petrobras. “Depois, o próprio Duque me procurou e começou a dizer que eu tinha que fazer contribuições políticas que essas contribuições teriam que ir através do Vaccari (...) Eu depositava oficialmente numa conta do Partido dos Trabalhadores”, revelou. Questionado pelo Ministério Público Federal (MPF) se havia pagado propina a funcionários da estatal, o delator confirmou.
“Sim. Eu paguei para o Pedro Barusco. Renato Duque sempre me encaminhou para o senhor João Vaccari. Eu nunca dei propina na mão dossenhor Renato Duque. Era sempre encaminhado o assunto para o senhor João Vaccari”, afirmou. O empreiteiro revelou ainda que os valores-base para distribuição de propina era de 1% para a Diretoria de Serviços, comandada por Duque, e para a Diretoria de Abastecimento, liderada por Paulo Roberto Costa, primeiro delator da Lava Jato. Ele ainda declarou na audiência que havia uma espécie de ‘pacto de não agressão’ entre as empreiteiras que formaram cartel na Petrobrás. “Nesse caso ficamos encarregados de pagar a Diretoria de Serviços (comandada por Renato Duque), o sr. João Vaccari e o ao (Pedro) Barusco. Fizemos esses pagamentos, consta do meu termo de colaboração”, revelou. Indagado por Sérgio Moro sobre com quem da Odebrecht o empreiteiro tratava de propina, Pessoa foi taxativo. “Minhas tratativas eram com Márcio Faria”. O magistrado ainda questionou: “Márco Faria tinha autonomia ou se reportava a algum superior?”. “Sempre teve autonomia”, respondeu Ricardo Pessoa.
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O delator também afirmou conhecer o presidente da empreiteira, mas negou ter tratado de propina com ele. “Conheço, estive com ele duas vezes, não tratei com ele esses assuntos, absolutamente.” Em nota, a Odebrecht afirmou que “O depoimento de Ricardo Pessoa derruba a tese simplista de um clube de empresas que funcionava como cartel nas licitações da Petrobrás. O delator também deixou claro que pode falar apenas pelos próprios atos e não responde sobre terceiros.” Pessoa vai pagar multa de R$ 51 milhões. O valor consta do acordo assinado pelo empreiteiro com a Procuradoria-Geral da República em 13 de maio deste ano e anexado aos autos da Lava Jato nesta quinta-feira (3). Ele é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. O empreiteiro afirmou, em sua delação, ter se encontrado sete vezes com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ter entregue R$ 2,4 milhões em dinheiro vivo para a campanha dele em 2006, mas admitiu não saber se o ex-chefe do Executivo nacional tinha conhecimento que o dinheiro era ilegal.
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