Foto: Enaldo Pinto/ Ag. Haack/ Bahia Notícias
Questionado por setores da esquerda pela aproximação com o DEM, uma sigla considerada de direita dentre os espectros político-partidários brasileiros, o pré-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes (PDT), que alegou inúmeras vezes buscar um governo de centro-esquerda, admitiu haver uma “incoerência insuperável” entre discurso e prática caso a aliança com os democratas seja selada. No entanto, o pedetista ponderou que, ao iniciar conversas com a legenda, buscou pensar “no dia seguinte” a uma possível vitória no pleito. Com isso, vem trabalhando para garantir a governabilidade. As declarações do presidenciável foram dadas em entrevista exclusiva concedida ao Bahia Notícias nesta segunda-feira (2), dia da Independência da Bahia. Nela, ele ainda reconheceu que o passado vai deixar a marca da incoerência, mas defendeu a necessidade de se olhar futuramente. “Olhando para trás, a incoerência é insuperável. E eu quero fazer tudo à luz do dia, para que a população convalide isso. Porque, para me eleger com PSB e PCdoB eu acho que dá, porque nada é mais forte do que a ideia quando seu tempo chegou. Mas eu tô olhando para o dia seguinte à eleição”, explicou o pedetista. O ex-governador do Ceará ainda justificou que tem vários projetos voltados ao país e necessitará de apoio no Congresso Nacional para aprová-los, caso seja alçado ao Palácio do Planalto. “Eu tenho um modelo de sistema tributário, previdenciário, um modelo de segurança pública. Tenho o sonho de ser reconhecido como presidente da educação, porque o Ceará já é a educação mais respeitada do Brasil. Isso tudo eu vou precisar de muita força no Congresso Nacional. Isso, então, me obriga a fazer uma eleição com cuidado no dia seguinte”, destacou. Sobre a possível aliança, Ciro disse que pretende discuti-la junto aos eleitores, para fechá-la de forma transparente. Durante a conversa com o portal, o presidenciável explicou como quer fazer o debate, mas afirmou não abrir mão de uma composição de forças que transite entre centro e esquerda. “Se eu puder, antes da eleição, dar transparência e explicar: ‘Olha, essa reunião aqui, que para trás pareceria estranhíssima, para frente se explica porque nós chegamos a uma proposta, a uma solução para determinadas questões. É um padrão de compromisso, em que a gente deixa atrás os ‘pratrasmente’ nas contradições da vida pública’, porque infelizmente é assim em um país de baixa tradição democrática. Mas o povo pode entender, e aí, sim, o meu projeto é para ser sustentado em um amplo arco de centro à esquerda”, explanou. As conversas entre Ciro e partidos do chamado centrão - DEM, PRB, Solidariedade (SD) e PP - se intensificaram no fim de junho, quando houve um jantar com o presidenciável e caciques das siglas (relembre aqui e aqui), como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), o presidente nacional do DEM, ACM Neto, o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira, o presidente do SD, deputado federal Paulinho da Força, e o presidente nacional do PRB, bispo Marcos Pereira. Destas agremiações, duas têm pré-candidatos próprios à Presidência, caso dos democratas, que tentam emplacar Rodrigo Maia, e os evangélicos da Igreja Universal - o PRB é o partido da instituição -, com o empresário Flávio Rocha. Entretanto, apesar das tentativas de viabilizar os nomes, os dois não têm conseguido obter resultados expressivos nas pesquisas de intenções de voto. A situação tem levado os partidos do bloco formado pelo centrão a procurarem um candidato que tenha chances reais de vitória nas eleições, para fechar um apoio conjunto a ele. É caso de Ciro, por exemplo. Mesmo com os diálogos iniciais, o pré-candidato mostrou cautela ao falar sobre a aliança com o DEM. “Por que eu falo no PSB [as conversas com o partido estão avançadas]? Porque o PSB não tem candidato à Presidência. E a gente tem que ter delicadeza. Hoje, o DEM tem candidato a presidente, que é o Rodrigo Maia. Enquanto ele não for removido, a nossa conversa tem que ser mais para o dia seguinte. E aí não é só o DEM. É um pacote. Sentamos à mesa com DEM, Solidariedade, PP e PRB”, afirmou.
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