Foto: Lucas Arraz / Bahia Notícias
A invasão da Assembleia Legislativa da Bahia por servidores públicos estaduais comprova que faltou combinar “com os russos” o encaminhamento dos projetos tratados como “amargos” pelo próprio governo. O funcionalismo público não parece contente com as mudanças na contribuição previdenciária e na estrutura do Planserv e com um teto para o salário dos servidores. O pacote de reformas enviado pelo governo inclui ainda a extinção de órgãos e a privatização de outros. A falta de diálogo é uma crítica irrefutável e os deputados terão que lidar com as consequências da austeridade pós-eleição do governo.
O ruído de comunicação é tão explícito que muitos servidores não tinham ideia do que seria encaminhado por Rui Costa para a AL-BA. Uma delas, a coordenadora do Planserv, Cristina Cardoso, pediu demissão por não ter participado do projeto que pode inviabilizar a sustentabilidade do plano de saúde. Foi apenas um dos elos fracos nesse processo.
Ao longo desta terça-feira (11), a tensão se tornou crescente. Delegados titulares e coordenadores da Polícia Civil entregaram os cargos. Professores e policiais militares, que vinham em protesto desde a última semana, engrossaram o tom. Momentos antes da sessão do Legislativo que previa a votação das medidas, o número de servidores aumentou e culminou com a invasão do plenário, algo que não acontecia desde o governo de Jaques Wagner. Ao menos nesse primeiro embate, o funcionalismo público venceu.
O próprio líder do governo, Zé Neto (PT), admitiu que faltou discutir os temas com os principais interessados. O tom do parlamentar é mais realista do que o hábito do petista – possivelmente, a perspectiva de mudança de ares com a eleição para deputado federal trouxe o feirense para uma postura mais “pé no chão”.
O governo errou e poderia recuar um pouco para rediscutir as matérias. No entanto, a força política de Rui Costa permite que o governador se dê ao luxo de empurrar projetos pouco populares sem receio da repercussão negativa. E, ao optar por encaminhar as alterações administrativas e econômicas após as eleições, o Executivo abre margem para que a oposição ataque a postura “eleitoreira” de omitir a situação financeira do estado para vencer nas urnas.
A situação na Assembleia Legislativa correu o risco de ficar ainda pior quando o presidente da Casa, Angelo Coronel, sugeriu que poderia transferir a sessão para outro espaço a fim de que a programação de votações fosse mantida. Seria um tiro de misericórdia na falta de diálogo do governo com os servidores – ainda que o funcionalismo público tenha chegado ao extremo de acampar no plenário. Por mais que tenha tido 75% dos votos, Rui não precisa passar por isso.
Inclusive, é importante frisar que a confusão envolvendo a falta de proximidade entre o governo e os servidores acontece na mesma semana em que o próprio Rui afirmou que o PT falhou ao se distanciar do povo e a consequência disso foi a derrota de Fernando Haddad no plano federal para um projeto claramente ancorado no antipetismo. Se o governador sinaliza que o afastamento da base provocou a erosão do PT, talvez fosse o momento de repensar a postura com servidores baianos.
Uma coisa é certa: além dos servidores, que devem ser atingidos pelas medidas de austeridade de Rui, os deputados também pagarão um preço alto por aprovar um pacote de projetos sem diálogo. Estarão eles dispostos a aceitar a fatura? O funcionalismo público garante que não.
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