Foto: Reprodução/ Ag. Câmara
Nesta segunda-feira (28), o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), se submeteu à terceira cirurgia em consequência do atentado de que foi vítima no último mês de setembro, durante a campanha eleitoral. Bolsonaro, que muitas vezes provocou um discurso de ódio, se tornou alvo desse tom e, a cada nova intervenção cirúrgica, é obrigado a conviver com discursos mesquinhos de opositores que torcem contra ele. Um erro grave para a construção do ambiente democrático brasileiro.
A campanha eleitoral de 2018 deveria ter sido encerrada no dia 28 de outubro, data do segundo turno do pleito. No entanto, parcela considerável da população segue em clima divisionista, como se a eleição nunca tivesse sido encerrada. Bolsonaro venceu e é presidente da República pelos próximos quatro anos. Era para ser um ponto final. Não é isso que tem acontecido, até mesmo quando envolve uma questão tão delicada quanto a saúde do atual ocupante do Planalto.
Esse discurso de ódio é incentivado por eleitores e por figuras próximas ao presidente, a exemplo dos filhos que divulgam mensagens abjetas que se aproveitam da retirada da bolsa de colostomia para criar teorias de conspiração com incluem a morte de Bolsonaro. Ao amplificar as vozes que deveriam, nesse caso, ser silentes, a reprodução de mensagens negativas só provoca a continuidade do ambiente de tensão, que gera mais e mais ódio.
Ao tempo em que a família Bolsonaro é vítima desse processo, é também algoz na estratégia discursiva que se arrasta desde o período anterior ao pleito de 2018. Vide as reações à decisão do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) de se afastar do terceiro mandato para o qual foi eleito. Não se esperava preocupação, porém o desdém é de um nível de imaturidade que beira a infantilidade. E até mesmo a lógica de desmentir as referências implícitas, como fez Carlos Bolsonaro, é bem menor do que se espera de alguém que integra o clã do chefe de um Estado.
O caso de Wyllys, inclusive, mostra como estamos em um estado catatônico diante das barbáries que acontecem na política. Por mais que haja discordância do posicionamento do deputado federal – e até mesmo a avaliação de que ele busca holofotes -, minimizar que o parlamentar se sente ameaçado e sugerir a ilação de que ele estaria por trás do atentado sofrido pelo então candidato à presidência é tão absurdo que não há adjetivo para descrever. A dor do outro é menor do que o ódio pelo qual se nutre a divisão entre brasileiros que tornaram a política um eterno embate entre torcidas.
Enquanto se discute quem merece mais rejeição, o Brasil segue bem menor do que deveria. Jean Wyllys não deveria ser desmerecido por renunciar. Bolsonaro não deveria ser alvo de zombarias por estar se submetendo a uma nova intervenção cirúrgica por causa de um desajustado que achou que resolveria a eleição com uma facada. Não deveríamos viver em um estado de ódio.
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