segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Ano Legislativo começa com cheiro de naftalina e discurso de nova política carcomido

Ano Legislativo começa com cheiro de naftalina e discurso de nova política carcomido
Foto: Geraldo Magela/ Agência Senado
Nesta segunda-feira (4) começam efetivamente os trabalhos do Senado, da Câmara dos Deputados, da Assembleia Legislativa da Bahia e da Câmara de Vereadores de Salvador. Todas foram alvos de críticas por serem símbolos da velha política e todas caíram em contos do vigário de que há algo de novo nessa mesma política. O novo nasceu carcomido pelos vícios e por falsos profetas, tal qual a campanha eleitoral de 2018, que elegeu Jair Bolsonaro presidente da República. Portanto, aguardemos apenas o esfacelamento do discurso de que existiu mudança. É tudo um jogo de cena, cujo momento do ápice tragicômico foi a eleição de Davi Alcolumbre no Senado. 

No entanto, antes de chegar até ele, é bom relembrar que Rodrigo Maia e Nelson Leal reúnem tantas qualidades de uma novidade quanto Geraldo Jr. na Câmara de Salvador. Os três são representantes de um estilo de fazer política demonizado pelos próprios políticos, mas que ainda se mantém vívido em qualquer parlamento brasileiro. E não há nada de errado nisso. Entre eles e um aventureiro, melhor ter comandantes cujos hábitos virtualmente reprováveis são ao menos dentro do horizonte de expectativa dos eleitores. É a lógica do copo meio cheio, ainda que a água não esteja completamente limpa. E esses três, inclusive, deram um banho de articulação no processo de candidatura e lograram êxito por méritos próprios, algo ligeiramente raro nos dias atuais - principalmente num país cuja "meritocracia" virou bandeira de um estado ficcional.

Mas eis que, num raro momento em que as raposas perdem o faro, Renan Calheiros caiu no Senado para um ilustre desconhecido do grande público: Davi Alcolumbre. O novo presidente da Casa chegou ao posto após sucessivas manobras dos dois grupos políticos que duelaram por dois dias na Câmara Alta. E colocou na conta do "ministro-chuveiro" Onyx Lorenzoni a vitória em um cenário de favoritismo de Renan.

O senador alagoano era o contrapeso esperado para um governo iniciante e com força para votar projetos polêmicos, a exemplo da reforma da Previdência. Porém Renan sucumbiu diante da própria soberba e saiu de cena prometendo ser um inimigo público não apenas de Alcolumbre, mas também de Onyx e do governo Bolsonaro. A aposta foi alta e tanto vencedor quanto vencido terão cifras altas para pagar. Resta saber quando essa conta vai chegar.

Renan não é santo. E também não é menino. Soube bem o que o levou à derrota. Davi - que venceu Golias na infame referência bíblica repetida milhares de vezes durante a eleição - sabe como venceu. E não é santo nem menino tal qual o adversário. Vide os resquícios de investigações das quais é alvo ou da maneira questionável que conduziu as sessões preparatórias para eleição no Senado.

O novo presidente tem estampado na testa a marca do governo e isso pode custar caro não a ele, mas ao país. Afinal, um presidente do Congresso Nacional sem a independência necessária em meio a criminalização da política pode ter um custo maior do que o Brasil pode pagar.

E, enquanto as Casas Legislativas de todo o país retomam os trabalhos, estaremos todos aguardando ansiosamente para que a nova política realmente apareça. Porque até agora só foi possível sentir o cheiro de naftalina das roupas velhas guardadas e que começam a sair do armário. 

PS: Ao final das eleições na Câmara e no Senado, é inconteste que o DEM acabou maior do que quando as urnas foram apuradas em outubro. Venceu nas duas casas e, de quebra, tem três ministros de Bolsonaro. Agora é esperar para ver como se comporta o presidente nacional do partido, ACM Neto, que será obrigado a dividir holofotes com Onyx Lorenzoni. Melhor pegar a pipoca!

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