Foto: Marcos Corrêa/ PR
O altar erguido em homenagem ao ex-juiz Sérgio Moro por sua atuação à frente da Operação Lava Jato, em Curitiba (PR), começou a desmoronar há cerca de seis meses, quando ele aceitou ser ministro da Justiça e Segurança Pública. No entanto, ao longo dos últimos dias, parece que até mesmo o presidente Jair Bolsonaro decidiu ajudar a destruir qualquer imagem idílica do herói defensor dos fracos e oprimidos. Ao confirmar um acordo de bastidores para que o ex-magistrado chegue ao Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro garantiu que a mosca azul do poder picou Moro e o contaminou com uma ambição maior do que o próprio personagem criado e alimentado pela mídia.
Moro nunca foi um santo. Durante o tempo em que esteve à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba, o ex-juiz cometeu erros graves, como a divulgação de um grampo telefônico da conversa entre a então presidente Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. Foi alvo de reprimendas discretas, porém tudo o que fez, sob o pretexto de interesse público, só assegurou fama e o simbolismo de defesa do país contra a corrupção. No entanto, as ações do então magistrado foram decisivas para sugerir os caminhos políticos que vieram a seguir.
Lula foi conduzido coercitivamente às vésperas da instalação da comissão que viria avalizar o impeachment de Dilma. A divulgação do diálogo dos dois presidentes aconteceu também à mesma época. O resultado, como sabemos, foi o fim do resquício de estabilidade política de Dilma e a consequente ascensão de Michel Temer ao poder. Até ali, Moro poderia passar despercebido de segundas intenções. No máximo, poderíamos considerá-lo um paladino da moralidade contra o “mal” chamado PT.
Só que Moro não ficou restrito a isso. Com muita pirotecnia, confrontou Lula e aumentou a distância entre o “bem”, representado por ele, e o “mal”, personificado pelo petista. O ex-presidente foi condenado pelo então juiz e ali o rascunho para defenestrar qualquer tentativa de retorno de Lula ao poder ficou mais explícita. Confirmada a pena do ex-presidente pelo Tribunal Regional Federal – e mais recentemente pelo Superior Tribunal de Justiça -, o petista deixou de ser um protagonista do processo eleitoral de 2018 e atuou como coadjuvante. Assim, a vida de Bolsonaro acabou menos difícil.
A construção da narrativa após a eleição de outubro desanuviou um pouco os interesses do âmago do ex-juiz. Moro aceitou se tornar ministro, com a promessa de que poderia ascender ao STF quando uma vaga houvesse. Tudo implícito, mas comentado à “boca pequena” por qualquer um que conheça o funcionamento interno do poder. Agora, Bolsonaro antecipou oficialmente que vai cumprir o combinado de permitir que o ministro deixe a Esplanada em direção à Suprema Corte. Moro negou um acordo. Só não convenceu.
Mesmo que rechace rótulos ou promessas, Sérgio Moro deixou-se levar pelo personagem que criou para si. Mas é apenas uma parte daquilo que construiu, já que os fins não deveriam justificar os meios. Assim, o ex-juiz se tornou muito menor o que poderia ser. O altar, finalmente, começou a ruir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário