segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Jerônimo se arrisca ao repetir fórmula de Rui em centralizar decisões

                                                                           

O enredo sobre a formação do secretariado de Jerônimo Rodrigues (PT) parece repetir a lógica adotada pelo ainda governador Rui Costa (PT) sobre eventuais mudanças na equipe. Cria-se uma expectativa grande em torno do assunto, gera-se uma sucessão de especulações e, ao fim e ao cabo, apenas o próprio gestor sabe a lista real. É uma estratégia arriscada, especialmente se não for compartilhada com aliados, que podem se sentir alijados do processo.

 

Após o segundo turno das eleições, Jerônimo se reuniu tardiamente com as lideranças partidárias isoladamente. Quando ele esticou os anúncios sobre o secretariado para esta semana, os diálogos não tinham acontecido. Em vez disso, tinha sinalizado apenas a hipótese de reativar o conselho político, uma espécie de órgão consultivo que Rui usou enquanto ainda precisava simular não ser centralizador. Pelo que dizem os interlocutores, o futuro morador do Palácio de Ondina tem um perfil menos fechado, mas ainda evita dividir as informações para além do núcleo mais duro e próximo a ele. No final de semana, as conversas finalmente começaram. 

 

É parte do processo de entender o terreno onde pisa. Convenhamos: Jerônimo foi alçado à condição de candidato e se tornou favorito na disputa muito próximo das urnas - há quem coloque esse favoritismo a favor dele apenas depois do primeiro turno. Sem esse preparo prévio para ser o nome do grupo para disputar uma eleição, nada mais natural que seja mais lento o processo de maturação das alianças. Nesse ponto, o governador eleito consegue empurrar as decisões sem tantas implicações negativas.

 

Só que o timing da política não necessariamente é o mesmo dele. Há um apetite voraz do PT por poder e o fato de ter sido Luiz Inácio Lula da Silva o presidente eleito facilita um pouco a vida do governador baiano. Ainda assim, a postergação excessiva pode fragilizar as relações que ainda estão em construção e que são imprescindíveis para uma boa governabilidade. Em um novo contexto, em que a oposição não saiu esfacelada, é preciso ter cautela, pois qualquer ranhura pode ser aproveitada para criar fatos políticos, algo desnecessário durante a tradicional lua de mel pós-urnas entre Jerônimo e os eleitores.

 

O governador vai traçar a própria história. Quando os aliados indicam enxergar nele um meio-termo entre o político Jaques Wagner e o técnico Rui Costa, eles vislumbram uma figura com capacidade de diálogo ao mesmo tempo em que consegue tocar projetos e obras. Essa foi a aposta também daqueles que permaneceram ao lado do grupo mesmo após a turbulência inicial. Quem veio depois - ou se aproveitou dessa fragilidade - deve ficar com nacos menores, já que à época não existia de maneira tão clara a perspectiva de poder que se confirmou.

 

Os adversários torcem para que haja desgaste na largada. Os aliados torcem para que Jerônimo consiga azeitar tudo desde agora. Do lado de cá, aguardamos o desfecho dessas conversas e a divulgação da lista de convocados.

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