segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Yamandú Orsi deve levar nova geração da esquerda ao poder no Uruguai

                                                                                  


Todas as eleições às quais concorreu ele venceu, diz um aliado próximo de Yamandú Orsi, 57, como se a apertada vitória nas eleições para presidente do Uruguai, de acordo com as projeções, fosse a mera ordem natural das coisas. Orsi era conhecido, mas nunca havia tido tamanha projeção.
 

O homem que em março do próximo ano assumirá a Presidência em um contexto simbólico importante no país -os 40 anos de retorno da democracia- foi por duas gestões consecutivas (2015-2020 e 2020-2024) governador do departamento de Canelones, que com 520 mil habitantes (15% da população nacional) circunda Montevidéu no mapa.
 

Formado professor de história, ele cresceu trabalhando com o pai em um armazém da região e também ali começou a militar na Frente Ampla, o agrupamento de forças de esquerda e centro-esquerda fundado em 1971, quando Orsi ainda era criança. Não ter nascido na capital Montevidéu tem sido um dos motes de sua campanha.
 

Desde a redemocratização, nenhum outro presidente do Uruguai era de outra região que não Montevidéu. De Julio María Sanguinetti, 88, o primeiro eleito nas urnas, passando por José "Pepe" Mujica, 89, que é padrinho político de Orsi, até o atual presidente, Luis Lacalle Pou, 51, todos haviam nascido no centro do poder. Orsi fugiu à lógica
 

No prólogo que fez em um livro sobre outro de seus "professores", como chama o ex-governador de Canelones Marcos Carámbula, ele escreve sobre o objetivo compartilhado de "promover e alimentar narrativas para além das fronteiras montevideanas".
 

E faz autocrítica inclusive para a Frente Ampla: "Os frente-amplistas começaram a processar um novo relato do qual faz parte entender que não há apenas um interior, mas muitos e bem distintos".
 

Foi um argumento muito usado em sua campanha para apontar que Orsi seria uma peça-chave para fortalecer a articulação entre o Uruguai rural e o urbano -a ver o que ele fará nos próximos cinco anos.
 

Com Orsi a esquerda voltará ao poder após uma janela de cinco anos ocupada por Lacalle Pou, quem interrompeu 15 anos consecutivos da Frente na Presidência ao ser eleito em 2019.
 

O futuro presidente pertence à mesma força política de Mujica, o MPP (Movimento de Participação Popular), que, fundado em 1989, marcou a entrada dos ex-guerrilheiros tupamaros na política institucional.
 

Orsi é uma renovação de antigos quadros nacionalmente conhecidos, como Tabaré Vázquez, morto em 2020, e Pepe Mujica, a velha guarda da esquerda uruguaia. Chama Pepe de uma espécie de professor, mas a bem da verdade é muito diferente do "maestro".
 

Conhecido por seus discursos com quê filosófico, Pepe Mujica sempre aderiu à arte do improviso. Na última eleição municipal no Brasil, em outubro, enviou vídeos de apoio a vários candidatos da esquerda. Gravava-os assim: um assessor colocava à sua frente um papel com o nome do(a) candidato e pronto, Mujica começava a falar para a câmera do celular como se conhecesse aquela pessoa de longa data.
 

Bem distante da espontaneidade, Orsi chegou a reservar um dia no primeiro turno da campanha, derrubando agendas, para preparar o discurso que faria no momento do resultado. As palavras pareciam milimetricamente calculadas.
 

Na noite do domingo que antecedeu o segundo turno, quando ele participou de um debate televisionado com o adversário Álvaro Delgado (Partido Nacional), não fugiu do script previamente acordado para eixos temáticos. Delgado fez várias perguntas para que Orsi respondesse, mas ele não respondeu a nenhuma.
 

Durante os próximos cinco anos, uma centro-esquerda renovada, mas ainda altamente influenciada pela velha guarda, governará o Uruguai. E Orsi terá inevitavelmente que sair do roteiro para lidar com desafios domésticos, mas também os internacionais --este último um tema no qual até aqui demonstrou pouco traquejo político.

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