segunda-feira, 7 de julho de 2025

Opinião: PT promove simulacro de democracia com PED e ainda deve ser partido mais democrático do país

                                                                                 


Em tempos em que a democracia ficou ainda mais cara para o Brasil, é engraçado ver como, em 2025, o PT não conseguiu emplacar, com o mesmo afinco de anos anteriores, o “Processo de Eleições Diretas”, apelidado de PED, na imprensa. É um belo simulacro de democracia, pois se propõe a escolher os dirigentes partidários que, por sua vez, tem o direito de escolher quem formará chapas majoritárias e proporcionais, além de gerir as instâncias da legenda. Os petistas foram às urnas neste domingo (6), mas o resultado dificilmente será diferente do que os caciques desejam – e trabalharam para acontecer.

 

Na comparação com outras siglas que têm dono, o PT é, de longe, o mais democrático dos partidos brasileiros. O PED é a representação disso, como todos os membros do partido gostam de frisar. Todavia, nem tudo que reluz é ouro. Mesmo que o discurso seja bonito, na prática dificilmente há alternância de poder entre aqueles grupos que controlam o poder decisório do partido. Isso vale no plano nacional e no plano baiano, que acaba impactando um pouco mais no dia a dia da população local (bem indiretamente, frisemos).

 

O PT criou uma dependência natural da figura de Luiz Inácio Lula da Silva. Membro fundador do partido, Lula foi candidato à presidência da República em seis oportunidades, avalizou duas eleições de Dilma Rousseff e, em 2018, só deixou a candidatura após mantida a inelegibilidade – e foi quem demarcou que Fernando Haddad deveria representá-lo nas urnas. Em 2026, o próprio Lula já se apresentou como candidato à reeleição, impedindo a sugerida renovação dos quadros políticos. Ele é o grande símbolo e deve ser uma baliza. Mas não a única.

 

Entretanto, quem acredita que um nome desvinculado dele conseguiria liderar o PT nacional? Tanto que a candidatura de Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, deve ser confirmado como presidente da sigla, sem grandes percalços. Ainda que tenha havido tentativas de oposição, inclusive de figuras até próximas a Lula no passado, é improvável que Edinho perca a disputa. Ou seja, as cartas são bem marcadas, e a militância tende a seguir a lógica de rebanho.

 

No caso da Bahia, Tássio Brito é considerado favorito dada as articulações daqueles que atualmente comandam o partido. O próprio pensamento que levou Éden Valadares ao posto, no último pleito, tende a ser majoritário. O principal adversário, Jonas Paulo, é ex-presidente do PT da Bahia e representa certo grau de “conservadorismo” em meio a uma janela progressista na qual os petistas baianos tendem a acreditar – em termos de renovação política principalmente.

 

E, tal qual acontece nacionalmente, quem delimita para onde o partido vai é quem está no poder – e não necessariamente no comando das instâncias partidárias. Vide a escolha de Rui Costa como candidato ao governo em 2014, a própria apresentação de Jerônimo Rodrigues em 2022 e até mesmo o desenho da chapa puro-sangue para 2026, com Jaques Wagner, Rui e Jerônimo na majoritária. Ou seja, há rainhas da Inglaterra que se travestem bem como dirigentes partidários em um processo que funciona como um simulacro de democracia.

 

Isso não quer dizer que não exista democracia. Ou que não há um esforço para a militância exercer seu direito ao voto e escolha os dirigentes. Até há. Mas não nos moldes de uma democracia ateniense, como se prega. Afinal, utopias existem para serem representações de como gostaríamos que fosse a realidade...

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