Ao protocolar um pedido de impeachment contra o vice-presidente Michel Temer (PMDB) na Câmara nesta sexta (1º), o ex-governador do Ceará Cid Gomes (PDT) disse que decidiu entrar com as denúncias neste momento porque a rápida tramitação do processo de Dilma Rousseff o "apavora".
"Vocês já pensaram o que vai ser o dia seguinte [ao possível impeachment de Dilma]? É isso que estou pensando. (...) Ele tramita muito rapidamente nessa comissão e isso me apavora", disse Gomes.
O ex-governador e ex-ministro da Educação de Dilma apresentou uma denúncia em que lista seis crimes de responsabilidade, mas não fala em pedaladas fiscais. O documento tem 16 páginas com anexos.
"O que estou apresentando são denúncias que fazem citação diretamente ao nome do vice-presidente ou ao PMDB, que é o partido presidido por ele e que, nesta condição, tem obrigações de responder", afirmou Gomes.
Segundo ele, são "delações, depoimentos, citações recolhidas de documentos, de equipamentos celulares de diversos investigados na operação Lava Jato que fazem referência explícita" a Temer.
O ex-governador deu, como exemplo, uma troca de mensagens de texto entre o dono da OAS, José Adelmário Pinheiro, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
"[Nas mensagens] o presidente da Câmara diz que 'aqueles R$ 5 milhões não deveriam ser entregues só ao Temer, aquilo tem que ver porque tem o resto da turma que tem que receber'", disse Gomes. O documento da denúncia traz uma reportagem da Folha sobre o assunto nos anexos.
"O que peço aqui é que sejam investigadas essas denúncias para fim de possível, eventual, como creio haja motivo, impeachment do vice-presidente Temer", disse. "Não quero dizer aqui que ele é absolutamente culpado destas denúncias. Eu quero que ele seja investigado."
Em outubro de 2015, Gomes chamou Temer de "chefe de quadrilha de achacadores" durante evento promovido pelo seu partido, o PDT. No início deste ano, o vice-presidente decidiu processá-lo por calúnia e difamação.
Cunha
Gomes disse que pede na denúncia que ela seja primeiro analisada pelo vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), porque o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem "notória vinculação" com Temer por serem do mesmo partido, e por Cunha estar em algumas das denúncias.
Questionado sobre o fato de Maranhão ser aliado de Cunha, Gomes disse que, se houver "alguma arbitrariedade", ele poderá recorrer ao Judiciário.
"Se houver recusa na fase inicial, recorrerei ao STF para que o Supremo faça a Câmara dos Deputados cumprir o que lhe é de dever: se há uma denúncia, que a denúncia seja investigada e analisada."
Presidente como vitíma
Ao ser questionado se havia mudado de ideia em relação ao Congresso —há pouco mais de um ano, ainda ministro, Gomes deu declarações de que a Câmara tem "uns 400 deputados, 300 deputados" achacadores—, ele disse que investigações recentes mostram que ele estava certo.
"De lá para cá, o que tem sido apurado pelas diversas operações do Ministério Público, da Polícia Federal e as decisões do Judiciário é que eu estava absolutamente correto naquilo que falei: há aqui, infelizmente, uma prática de achaque", afirmou.
Ele ainda disse que, "pela chantagem, pela pressão", o Executivo é "muito mais vítima do que protagonista do balcão" para negociar ministérios.
"Eu pessoalmente tenho um conceito de que a presidente Dilma é uma pessoa séria, honesta, bem intencionada."
Fonte: Folha
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